quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nutrição: Contaminação de Alimentos

Na senda das contaminações do século XXI, a exposição de alimentos a esses agentes "tóxicos" é também preocupante... para não falar que nos podemos, literalmente, intoxicar com alimentos saudáveis...

Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista Equipa de Saúde Pública de Beja:

"Quando pedi ao André  uma sugestão sobre o artigo deste mês a sua resposta foi muito pronta: “Contaminação dos alimentos... Vê o meu último post... Homens com mamas... ”. A minha reacção foi de espanto! =) Antes e depois de ler o artigo... Nunca tinha ouvido falar em tal... Ainda, ao iniciar este artigo penso no que vou escrever e que opinião ter... =)
Em relação a este tema apenas tenho conhecimento da contaminação química, física, microbiológica e nutricional dos alimentos, agora hormonal... será contaminação por agrotóxicos?! Vou tomar essa linha de pensamento no artigo deste mês.

O ideal numa alimentação saudável seria consumir alimentos o menos processados possível. Esta é uma advertência que já faço há muito tempo. A industrialização alimentar veio revolucionar a nossa alimentação ao ponto de as percentagens de obesidade terem aumentado muito assim como também as patologias a ela associadas. Mais gordura, mais açúcar e mais sal. Falo nestes ingredientes uma vez que são realmente os que mais contaminações nutricionais provocam. Conhecemos as contaminações químicas, físicas e biológicas, mas nas nutricionais já teríamos pensado nelas? Poucos somos os que pensamos nos alimentos enquanto contaminados nutricionalmente.

Mas também quando falamos em produtos enquanto matérias-primas, aqueles que aparecem na Roda dos Alimentos, já poderemos também considerá-los contaminados de várias formas. Quem não se lembra das dioxinas nos frangos, a BSE nas vacas – mais conhecida pela doença das vacas loucas -, o mercúrio nos peixes, os vegetais contaminados com pesticidas e herbicidas, o leite contaminado com hormonas, etc. Por este prisma não poderemos comer nada, não é verdade? Tudo isto se deve, na minha visão e de muitos outros, com as modificações ambientais no nosso planeta, com diminuição de recursos naturais como a água,  ou as alterações climáticas que tanto têm influenciado a agricultura “obrigando” a alternativas não tão desejáveis como gostaríamos.

Já somos muitos no Mundo, e esperar que os animais se criem ou os vegetais sejam suficientes, a “revolução” na produção levou a que os animais sejam “obrigados” a crescer, exemplo disso são os frangos de aviário – em 17 dias estão prontos para a grelha. Em relação aos hortícolas e frutos já nem existem os chamados frutos ou hortícolas “da época”. Apenas alguns ainda são apenas cultivados na sua própria altura. 

Penso que poucos de nós não temos a noção da importância da agricultura na nossa saúde. Há medida que os hortelões vão sendo cada vez menos, ainda há crianças que acreditam que os alimentos nascem das prateleiras dos supermercados!!
Com todas estas condicionantes “nasce” a Agricultura Biológica. Neste tipo de agricultura não se recorre a pesticidas/ herbicidas nem a adubos de síntese. Nos produtos animais não são utilizados antibióticos, hormonas ou outro tipo de produtos deste género. Defende-se tanto a saúde do consumidor como também do produtor no sentido deste ser protegido dos produtos químicos utilizados na agricultura convencional.

Que vantagens tem este tipo de agricultura?
Os alimentos que resultam deste tipo de agricultura:
-          São mais saborosos e mais saudáveis uma vez que estão livres do uso de produtos agrotóxicos; o seu valor nutricional é maior que os alimentos que resultam da agricultura intensiva. Têm mais antioxidantes, vitaminas e minerais, ou seja, as perdas nutricionais que resultam do processamento dos alimentos são menores. O facto de terem um teor de água mais baixo faz com que o seu sabor seja melhor.
-          a sua produção respeita o meio ambiente, evitando assim a contaminação da água, do solo e até mesmo das vegetações;

 Que Desvantagens terá?
A única desvantagem apontada é o seu preço. Este tipo de agricultura sai-nos mais caro. A sua produção também tem maior duração.

Não vou escrever como defensora da Agricultura Biológica, porque aderir a este tipo de agricultura terá muitas condicionantes. Temos agricultura sem ser intensiva e que se pode adquirir nos nossos mercados locais e que será mais barata do que aquela que se denomina de “Agricultura Biológica”. Ao abordar este tema, e embora tenha enumerado vantagens deste tipo de agricultura, a nossa agricultura local também não fica muito longe das qualidades desta. Falo enquanto consumidora de produtos locais. Serão mais graves as substituições que se fazem de produtos ou até de refeições pré-feitas com as que se poderiam confeccionar em casa. Ou seja, a industrialização alimentar é, nos dias de hoje, um problema nutricional. 

Hortícolas - Em todas as agriculturas se utilizam herbicidas/pesticidas embora na Agricultura Biológica, estes sejam menos agressivos. Tanto numa como noutra, os cuidados, no que se refere a segurança alimentar, não devem ser descuidados. Isto é, desinfecção dos produtos em casa. Ninguém faz isto. Quando compramos estes produtos embalados este problema já não se coloca.

Produtos cárneos (principalmente, ovos e aves de capoeira) – quando me falam em ovos “caseiros”, sinceramente não sei se é bom se é mau! =) as galinhas não sendo vacinadas, não existe controlo sanitário das mesmas, e por isso a probabilidade de transmissão de doenças é maior que no aviário. As aves de aviário têm o problema de para além das vacinas, é-lhes induzido o crescimento. Aqui é o problema. O que fazer? Cozinhar muito bem os ovos e as carnes.

Frutas – quem não gosta das frutas de tamanho grande? Má escolha!! Estes alimentos têm uma grande quantidade de água, daí o seu sabor não ser nenhum. Sei que o aspecto conta, mas já diz um ditado (relacionado às pessoas, mas digo-o neste contexto também): “feio por fora, bonito por dentro”, pior aspecto, mas melhor valor nutricional.

Peixe – os “aviários” também já chegaram à produção de peixes. A aquacultura já está bastante alargada. Pelo que já li sobre este assunto, tem menor reflexão na saúde que a produção de carne.

Leguminosas – penso que são as únicas que ainda problema algum lhes chegou. Dever-se-á dar preferência às leguminosas secas, mais baratas e mais saudáveis no que se refere ao teor de sal. Caso adquiram enlatadas, lavem-nas em água corrente. Em caso de comprarem a granel, cozam e dividam em pequenas porções (com a água da cozedura) e congelem. Estas são algumas das razões pelas quais promovo estes alimentos, para além de serem os meus favoritos, claro! =)

Gorduras – apenas azeite, óleo de amendoim e banha são as gorduras a promover na sua formal natural. O óleo de amendoim que não tenha misturas (ler bem a lista de ingredientes). Todas as outras gorduras são de evitar.

Leite e derivados -  consumi-los na sua forma mais simples, meio gordo ou magro. Em relação ao leite, simples sem adições algumas. Enriquecido em tudo a mais alguma coisa, normalmente cálcio e vitamina D. Se não os tem é sinal de que foi muito processado e perdeu muito das suas propriedades. Vitamina D temos no sol do nosso País. E cálcio temos em muitos outros alimentos (vegetais de folha verde escura).
Os iogurtes, sendo normalmente alimentos a promover, têm muitas rasteiras. Meio gordo ou magro, o que interessa é que tenha o menor número possível de ingredientes desconhecidos =)

Água – engarrafada ou da torneira. Desde que seja controlada (não ser de furos e outros locais em que não tenhamos a certeza do seu tratamento). 

Até aqui escrevi sobre os alimentos que compõem os grupos da roda dos alimentos. A seguir, e porque li e concordo com um artigo que resultou de acontecimentos recentes acerca das carnes alternativas que se consomem em produtos transformados, escrevo em tom de sensibilização.

Este artigo tinha como titulo “Bonitos só por fora”, escrito na revista Visão. Deste artigo destaco alguns pontos interessantes. São eles:

-          Salsichas em lata. Quem compra para desenrascar ou para os mais pequenos porque eles gostam? Uma análise feita pela DECO, concluiu-se que tinham excesso de água, uma qualidade de proteína razoável e abusava da gordura, dos amidos e sal. O problema para estes produtos é que os seus produtores não têm uma legislação especifica... são livres de adicionar o que entenderem.
-          Hambúrgueres embalados. Se comprados nos talhos, são 100% carne. Caso sejam embalados, apenas 80,5%  são carne. Os outros quase 20% de ingredientes que sobram ficam entre: proteína e fibra vegetal, sal, especiarias açúcares e aditivos. Especiarias ainda se aceitam, agora fibra vegetal? Ou proteína adicionadas!! Açúcar num produto cárneo??? A carne não tem açúcar na sua composição... para consumirmos proteína e fibra vegetal temos as leguminosas!!
-          Preparado em pó para puré. Este preparado contém batatas desidratadas (90%) e aditivos e contém sulfitos (utilizados como antioxidantes... podem resultar em reações alérgicas, principalmente a quem tem asma). Nem vou fazer comparação ao verdadeiro puré!!
-          Gelado com sabor a morango. De morango apenas apresentam 7%. Os restantes ingredientes são leites em pó, aditivos (corantes, emulsionantes, estabilizadores) e açúcares. Um gelado caseiro pode conter apenas iogurte/leite e morangos!! Aqui a grande diferença será na gordura saturada  que os gelados industriais apresentam. Leite e/ou iogurtes magros e fruta não contém gordura!!
-          Sumos/ refrigerantes. O teor de fruta nestes produtos alimentares é muito reduzido! Se queremos comprar um sumo de fruta ele deve conter este ingrediente, e não ser constituído por água, açúcar e dez aditivos, diz uma nutricionista neste artigo. E essa é a verdade. O teor de fruta num sumo engarrafado é muito pequeno. Estes produtos a serem aceites
-          nutricionalmente deverão ter um teor mínimo de 50% de fruta (já sei que existem no mercado... encontrem-nos! =)
-          Sopas de legumes em pacote. Entre os ingredientes desejáveis, apresentam também amidos modificados, gordura saturada (manteiga, natas, etc.) e outros aditivos (aromatizantes). Aqui também não vou falar da sopa caseira!! Quando não tiverem tempo pensem bem no valor nutricional destas sopas.

Ao final destas linhas acabei por falar mais na “contaminação nutricional” dos alimentos. É-me inevitável!!  É a minha luta diária. Mas com estes alertas, quero dizer-vos que o que promovo são os pratos/produtos alimentares na sua forma natural.

Para acabar, se calhar perguntam-se, mas afinal em que ficamos?

Referi-me a produtos industrializados dos quais não temos falta alguma para a nossa saúde e crescimento dos mais pequenos.  Equilíbrio alimentar é o que se quer!! Nos dias que correm nem todos temos tempo e/ou oportunidade ou até mesmo condições económicas para preparar produtos frescos resultantes de agricultura biológica. Desta forma, produtos enquanto matérias-primas podem ser adquiridos congelados nas grandes superfícies ou até mesmo frescos e podem ser acondicionados (refrigerados ou congelados) em casa.  Não posso de todo escolher um tipo de agricultura já que há vantagens e desvantagens. Cabe-nos a nós, enquanto cidadãos,  alterar comportamentos a que eu chamo “respeito” e que muitas campanhas têm abordado: cuidar do meio ambiente nas suas várias vertentes – água, solo, clima (vamos todos andar de bicicleta J); evitar desperdícios (alimentares); reciclagem, etc.

Bem, penso que a minha sensibilização por este artigo está lançada. Algumas coisas podemos fazer de imediato, outras com o tempo vamos conseguindo mudar.
Termino com esta frase...
“Nenhuma actividade humana, nem mesmo a medicina, tem tanta importância para a saúde como a agricultura”. Prof. Pierre Delbet (Academia de Medicina, França)""

Fontes:

Podem acompanhar a Ana na rubrica intitulada "Vida Saudável" que passa na Rádio Pax todas as quartas-feiras pelas 10h15.

5 comentários:

  1. Bom dia
    Mais uma vez um texto pertinente da "nossa nutricionista de serviço".
    Nos supermercados existem os produtos biológicos que considero a preços muito elevados.
    Mas podemos sempre optar pelos "velhotes" no mercado do St Amaro ou mesmo no mercado municipal.
    Pelo menos eu acredito que são saudáveis e por isso é lá que compro tudo.
    Cada vez mais as pessoas optam por cultivar qualquer coisa no quintal, numa hortinha comunitária :)
    Beijinho e boa semana

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  2. Excelente post, acho que estão focados os principais aspetos sobre a “contaminação dos alimentos”.
    Sou defensor de uma agricultura sustentável e biológica, no entanto ainda existe um grande caminho a percorrer, a oferta é escassa e o preço elevado quando comparado com os produtos oriundos de agricultura convencional…
    Mas fica, sem duvida nenhuma, que o valor nutritivo e o sabor dos produtos com origem na agricultura biológica é muito mas muito superior aos ditos de agricultura “normal”.
     BE GREEN
    Nuno Correia

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  3. obrigada aos "leitores de serviço" :)

    Nuno, sem dúvida que os alimentos da agricultura biológica são mais saborosos e com as suas cores mais vivas... a isto deve-se ao maior teor de matéria seca que estes alimentos têm, logo menos água que os da agricultura "normal", que por sua vez tê ainda menos que os que são cultivados de modo intensivo. Valor nutricional nem se fala (aqui pode ficar o tema para um post posterior, "alimentos funcionais"). O preço quer para o cliente quer para a sustentabilidade de quem se joga a este desafio, quanto a mim, são a grande desvantagem... Vamo-nos governando com os nossos hortelões locais enquanto não houver uma mercearia biológica na cidade já que nas grandes superfícies os preços são de fugir... ;)
    Lily eu sou fã dos nossos mercados... excelente escolha! ;) Onde é que nas grandes superfícies encontramos tengarrinhas ou cardos para fazer com os feijões? eheheh

    ana

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  4. Olá,
    Ana, obrigado pela partilha dos teus sábios conhecimentos :)
    Uma loja com produtos biológicos era uma boa ideia, mas por cá acho que ainda não tinha futuro… a mudança de mentalidades é muito lenta…
    Mas temos uma boa solução (passo a publicidade não ganho nada com isto) ver: www.amaodesemear.com
    Vem trazer a casa o cabaz com produtos de origem biológica…certificados
     BE GREEN
    Nuno Correia

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  5. Ai Ana o que me ri agora com as tengarrinhas ;) Ainda há bem pouco tempo a minha avó comprou no St Amaro e fez um feijão delicioso, (gosto mesmo daquilo) e tanta gente me questionou o que eram tengarrinhas lol
    Só as encontramos nos nossos mercados e nesta altura do ano.
    Essa é outra questão, a época dos alimentos. Nos supermercados há tudo durante todo o ano, claro que nada com paladar...
    Por isso é que compro aos nossos "velhotes" ;)
    P.S. na altura das abóboras e batatas doces aprendi, num curso vegetariano, a fazer puré com os dois ingredientes. Fica muito bom, todos gostaram lá em casa ;)
    Beijinhos

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