Na senda das contaminações do século XXI, a exposição de alimentos a esses agentes "tóxicos" é também preocupante... para não falar que nos podemos, literalmente, intoxicar com alimentos saudáveis...
Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista Equipa de Saúde Pública de Beja:
"Quando pedi
ao André uma sugestão sobre o artigo
deste mês a sua resposta foi muito pronta: “Contaminação dos alimentos... Vê o meu último post... Homens com mamas... ”. A minha reacção foi de espanto! =) Antes e depois de ler o artigo... Nunca
tinha ouvido falar em tal... Ainda, ao iniciar este artigo penso no que vou
escrever e que opinião ter... =)
Em relação a
este tema apenas tenho conhecimento da contaminação química, física,
microbiológica e nutricional dos alimentos, agora hormonal... será contaminação
por agrotóxicos?! Vou tomar essa linha de pensamento no artigo deste mês.
O ideal
numa alimentação saudável seria consumir alimentos o menos processados
possível. Esta é uma advertência que já faço há muito tempo. A industrialização
alimentar veio revolucionar a nossa alimentação ao ponto de as percentagens de
obesidade terem aumentado muito assim como também as patologias a ela
associadas. Mais gordura, mais açúcar e mais sal. Falo nestes
ingredientes uma vez que são realmente os que mais contaminações nutricionais
provocam. Conhecemos as contaminações químicas, físicas e biológicas, mas nas
nutricionais já teríamos pensado nelas? Poucos somos os que pensamos nos
alimentos enquanto contaminados nutricionalmente.
Mas também
quando falamos em produtos enquanto matérias-primas, aqueles que aparecem na
Roda dos Alimentos, já poderemos também considerá-los contaminados de várias
formas. Quem não se lembra das dioxinas nos frangos, a BSE nas vacas – mais
conhecida pela doença das vacas loucas -, o mercúrio nos peixes, os vegetais
contaminados com pesticidas e herbicidas, o leite contaminado com hormonas,
etc. Por este prisma não poderemos comer nada, não é verdade? Tudo isto se
deve, na minha visão e de muitos outros, com as modificações ambientais no
nosso planeta, com diminuição de recursos naturais como a água, ou as alterações climáticas que tanto têm
influenciado a agricultura “obrigando” a alternativas não tão desejáveis como
gostaríamos.
Já somos
muitos no Mundo, e esperar que os animais se criem ou os vegetais sejam
suficientes, a “revolução” na produção levou a que os animais sejam “obrigados”
a crescer, exemplo disso são os frangos de aviário – em 17 dias estão prontos
para a grelha. Em relação aos hortícolas e frutos já nem existem os chamados
frutos ou hortícolas “da época”. Apenas alguns ainda são apenas cultivados na
sua própria altura.
Penso que
poucos de nós não temos a noção da importância da agricultura na nossa saúde.
Há medida que os hortelões vão sendo cada vez menos, ainda há crianças que
acreditam que os alimentos nascem das prateleiras dos supermercados!!
Com todas
estas condicionantes “nasce” a Agricultura Biológica. Neste tipo de agricultura
não se recorre a pesticidas/ herbicidas nem a adubos de síntese. Nos produtos animais
não são utilizados antibióticos, hormonas ou outro tipo de produtos deste
género. Defende-se tanto a saúde do consumidor como também do produtor no
sentido deste ser protegido dos produtos químicos utilizados na agricultura
convencional.
Que vantagens tem este tipo de
agricultura?
Os alimentos
que resultam deste tipo de agricultura:
-
São
mais saborosos e mais saudáveis uma vez que estão
livres do uso de produtos agrotóxicos; o seu valor nutricional é maior que os
alimentos que resultam da agricultura intensiva. Têm mais antioxidantes,
vitaminas e minerais, ou seja, as perdas nutricionais que resultam do
processamento dos alimentos são menores. O facto de terem um teor de água mais
baixo faz com que o seu sabor seja melhor.
-
a
sua produção respeita o meio ambiente,
evitando assim a contaminação da água, do solo e até mesmo das vegetações;
Que Desvantagens
terá?
A única
desvantagem apontada é o seu preço.
Este tipo de agricultura sai-nos mais caro. A sua produção também tem maior
duração.
Não vou
escrever como defensora da Agricultura Biológica, porque aderir a este tipo de
agricultura terá muitas condicionantes. Temos agricultura sem ser intensiva e
que se pode adquirir nos nossos mercados locais e que será mais barata do que
aquela que se denomina de “Agricultura Biológica”. Ao abordar este tema, e
embora tenha enumerado vantagens deste tipo de agricultura, a nossa agricultura
local também não fica muito longe das qualidades desta. Falo enquanto
consumidora de produtos locais. Serão mais graves as substituições que se fazem
de produtos ou até de refeições pré-feitas com as que se poderiam confeccionar
em casa. Ou seja, a industrialização alimentar é, nos dias de hoje, um problema
nutricional.
Hortícolas - Em todas as agriculturas se utilizam
herbicidas/pesticidas embora na Agricultura Biológica, estes sejam menos
agressivos. Tanto numa como noutra, os cuidados, no que se refere a segurança
alimentar, não devem ser descuidados. Isto é, desinfecção dos
produtos em casa. Ninguém faz isto. Quando compramos estes produtos embalados
este problema já não se coloca.
Produtos cárneos (principalmente, ovos e aves de
capoeira) – quando me falam em ovos “caseiros”, sinceramente não sei se é bom
se é mau! =) as galinhas não sendo vacinadas,
não existe controlo sanitário das mesmas, e por isso a probabilidade de
transmissão de doenças é maior que no aviário. As aves de aviário têm o
problema de para além das vacinas, é-lhes induzido o crescimento. Aqui é o
problema. O que fazer? Cozinhar
muito bem os ovos e as carnes.
Frutas – quem não gosta das frutas de
tamanho grande? Má escolha!! Estes alimentos têm uma grande quantidade de água,
daí o seu sabor não ser nenhum. Sei que o aspecto conta, mas já diz um ditado
(relacionado às pessoas, mas digo-o neste contexto também): “feio por fora,
bonito por dentro”, pior aspecto, mas melhor valor nutricional.
Peixe – os “aviários” também já chegaram
à produção de peixes. A aquacultura já está bastante alargada. Pelo que já li
sobre este assunto, tem menor reflexão na saúde que a produção de carne.
Leguminosas – penso que são as únicas que ainda
problema algum lhes chegou. Dever-se-á dar preferência às leguminosas secas,
mais baratas e mais saudáveis no que se refere ao teor de sal. Caso adquiram
enlatadas, lavem-nas em água corrente. Em caso de comprarem a granel, cozam e
dividam em pequenas porções (com a água da cozedura) e congelem. Estas são
algumas das razões pelas quais promovo estes alimentos, para além de serem os
meus favoritos, claro! =)
Gorduras – apenas azeite, óleo de amendoim e
banha são as gorduras a promover na sua formal natural. O óleo de amendoim que
não tenha misturas (ler bem a lista de ingredientes). Todas as outras gorduras
são de evitar.
Leite e derivados -
consumi-los na sua forma mais simples, meio gordo ou magro. Em relação
ao leite, simples sem adições algumas. Enriquecido em tudo a mais alguma coisa,
normalmente cálcio e vitamina D. Se não os tem é sinal de que foi muito
processado e perdeu muito das suas propriedades. Vitamina D temos no sol do
nosso País. E cálcio temos em muitos outros alimentos (vegetais de folha verde
escura).
Os iogurtes,
sendo normalmente alimentos a promover, têm muitas rasteiras. Meio gordo ou
magro, o que interessa é que tenha o menor número possível de ingredientes
desconhecidos =)
Água – engarrafada ou da torneira. Desde
que seja controlada (não ser de furos e outros locais em que não tenhamos a
certeza do seu tratamento).
Até aqui
escrevi sobre os alimentos que compõem os grupos da roda dos alimentos. A
seguir, e porque li e concordo com um artigo que resultou de acontecimentos
recentes acerca das carnes alternativas que se consomem em produtos
transformados, escrevo em tom de sensibilização.
Este artigo
tinha como titulo “Bonitos só por fora”, escrito na revista Visão. Deste artigo
destaco alguns pontos interessantes. São eles:
-
Salsichas
em lata.
Quem compra para desenrascar ou para os mais pequenos porque eles gostam? Uma
análise feita pela DECO, concluiu-se que tinham excesso de água, uma qualidade
de proteína razoável e abusava da gordura, dos amidos e sal. O problema para
estes produtos é que os seus produtores não têm uma legislação especifica...
são livres de adicionar o que entenderem.
-
Hambúrgueres
embalados.
Se comprados nos talhos, são 100% carne. Caso sejam embalados, apenas
80,5% são carne. Os outros quase 20% de
ingredientes que sobram ficam entre: proteína e fibra vegetal, sal, especiarias
açúcares e aditivos. Especiarias ainda se aceitam, agora fibra vegetal? Ou
proteína adicionadas!! Açúcar num produto cárneo??? A carne não tem açúcar na
sua composição... para consumirmos proteína e fibra vegetal temos as
leguminosas!!
-
Preparado
em pó para puré.
Este preparado contém batatas desidratadas (90%) e aditivos e contém sulfitos
(utilizados como antioxidantes... podem resultar em reações alérgicas,
principalmente a quem tem asma). Nem vou fazer comparação ao verdadeiro puré!!
-
Gelado
com sabor a morango.
De morango apenas apresentam 7%. Os restantes ingredientes são leites em pó,
aditivos (corantes, emulsionantes, estabilizadores) e açúcares. Um gelado
caseiro pode conter apenas iogurte/leite e morangos!! Aqui a grande diferença
será na gordura saturada que os gelados
industriais apresentam. Leite e/ou iogurtes magros e fruta não contém gordura!!
-
Sumos/
refrigerantes.
O teor de fruta nestes produtos alimentares é muito reduzido! Se queremos
comprar um sumo de fruta ele deve conter este ingrediente, e não ser
constituído por água, açúcar e dez aditivos, diz uma nutricionista neste
artigo. E essa é a verdade. O teor de fruta num sumo engarrafado é muito
pequeno. Estes produtos a serem aceites
-
nutricionalmente
deverão ter um teor mínimo de 50% de fruta (já sei que existem no mercado...
encontrem-nos! =)
-
Sopas
de legumes em pacote.
Entre os ingredientes desejáveis, apresentam também amidos modificados, gordura
saturada (manteiga, natas, etc.) e outros aditivos (aromatizantes). Aqui também
não vou falar da sopa caseira!! Quando não tiverem tempo pensem bem no valor
nutricional destas sopas.
Ao final
destas linhas acabei por falar mais na “contaminação nutricional” dos
alimentos. É-me inevitável!! É a minha
luta diária. Mas com estes alertas, quero dizer-vos que o que promovo são os
pratos/produtos alimentares na sua forma natural.
Para acabar, se calhar perguntam-se,
mas afinal em que ficamos?
Referi-me a
produtos industrializados dos quais não temos falta alguma para a nossa saúde e
crescimento dos mais pequenos. Equilíbrio
alimentar é o que se quer!! Nos dias que correm nem todos temos tempo e/ou
oportunidade ou até mesmo condições económicas para preparar produtos frescos
resultantes de agricultura biológica. Desta forma, produtos enquanto
matérias-primas podem ser adquiridos congelados nas grandes superfícies ou até
mesmo frescos e podem ser acondicionados (refrigerados ou congelados) em casa. Não posso de todo escolher um tipo de
agricultura já que há vantagens e desvantagens. Cabe-nos a nós, enquanto cidadãos, alterar comportamentos a que eu chamo “respeito”
e que muitas campanhas têm abordado: cuidar do meio ambiente nas suas várias
vertentes – água, solo, clima (vamos todos andar de bicicleta J); evitar desperdícios
(alimentares); reciclagem, etc.
Bem, penso
que a minha sensibilização por este artigo está lançada. Algumas coisas podemos
fazer de imediato, outras com o tempo vamos conseguindo mudar.
Termino com
esta frase...
“Nenhuma actividade humana, nem mesmo a medicina, tem
tanta importância para a saúde como a agricultura”. Prof. Pierre Delbet
(Academia de Medicina, França)""
Fontes:
Podem acompanhar a Ana na rubrica intitulada "Vida Saudável" que passa na Rádio Pax todas as quartas-feiras pelas 10h15.
Bom dia
ResponderEliminarMais uma vez um texto pertinente da "nossa nutricionista de serviço".
Nos supermercados existem os produtos biológicos que considero a preços muito elevados.
Mas podemos sempre optar pelos "velhotes" no mercado do St Amaro ou mesmo no mercado municipal.
Pelo menos eu acredito que são saudáveis e por isso é lá que compro tudo.
Cada vez mais as pessoas optam por cultivar qualquer coisa no quintal, numa hortinha comunitária :)
Beijinho e boa semana
Excelente post, acho que estão focados os principais aspetos sobre a “contaminação dos alimentos”.
ResponderEliminarSou defensor de uma agricultura sustentável e biológica, no entanto ainda existe um grande caminho a percorrer, a oferta é escassa e o preço elevado quando comparado com os produtos oriundos de agricultura convencional…
Mas fica, sem duvida nenhuma, que o valor nutritivo e o sabor dos produtos com origem na agricultura biológica é muito mas muito superior aos ditos de agricultura “normal”.
BE GREEN
Nuno Correia
obrigada aos "leitores de serviço" :)
ResponderEliminarNuno, sem dúvida que os alimentos da agricultura biológica são mais saborosos e com as suas cores mais vivas... a isto deve-se ao maior teor de matéria seca que estes alimentos têm, logo menos água que os da agricultura "normal", que por sua vez tê ainda menos que os que são cultivados de modo intensivo. Valor nutricional nem se fala (aqui pode ficar o tema para um post posterior, "alimentos funcionais"). O preço quer para o cliente quer para a sustentabilidade de quem se joga a este desafio, quanto a mim, são a grande desvantagem... Vamo-nos governando com os nossos hortelões locais enquanto não houver uma mercearia biológica na cidade já que nas grandes superfícies os preços são de fugir... ;)
Lily eu sou fã dos nossos mercados... excelente escolha! ;) Onde é que nas grandes superfícies encontramos tengarrinhas ou cardos para fazer com os feijões? eheheh
ana
Olá,
ResponderEliminarAna, obrigado pela partilha dos teus sábios conhecimentos :)
Uma loja com produtos biológicos era uma boa ideia, mas por cá acho que ainda não tinha futuro… a mudança de mentalidades é muito lenta…
Mas temos uma boa solução (passo a publicidade não ganho nada com isto) ver: www.amaodesemear.com
Vem trazer a casa o cabaz com produtos de origem biológica…certificados
BE GREEN
Nuno Correia
Ai Ana o que me ri agora com as tengarrinhas ;) Ainda há bem pouco tempo a minha avó comprou no St Amaro e fez um feijão delicioso, (gosto mesmo daquilo) e tanta gente me questionou o que eram tengarrinhas lol
ResponderEliminarSó as encontramos nos nossos mercados e nesta altura do ano.
Essa é outra questão, a época dos alimentos. Nos supermercados há tudo durante todo o ano, claro que nada com paladar...
Por isso é que compro aos nossos "velhotes" ;)
P.S. na altura das abóboras e batatas doces aprendi, num curso vegetariano, a fazer puré com os dois ingredientes. Fica muito bom, todos gostaram lá em casa ;)
Beijinhos