terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Nutrição: Obesidade Infantil

Em abril tive oportunidade de expor os resultados dos estudo que levamos a cabo com as nossas 250 crianças (pré-escolar e ATL): Agentes Educativos vs Obesidade Infantil

Destas, mais de 1/4 das crianças até aos 5 anos e  mais de 1/3 até aos 9 apresentava excesso de peso, e acumulação excessiva de gordura ultrapassava 40% das crianças mais velhas.

A partilha, numa vertente mais clínica, da nossa Nutricionista de "serviço" é terrivelmente assustadora!
Poderá até escandalizar-nos enquanto agentes educativos... eu próprio já tentei (e tento) comprar o meu egocentricozinho de apenas 2 anos com porcarias... ainda que o desgraçado pareça um pau de virar tripas de tão magrinho que é! O barrete serve a quem o enfia.

Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista Equipa de Saúde Pública de Beja:

"Um excelente ano de 2013 para todos!! Que seja um ano que nos preencha dos desejos/ambições e tudo o que se pode desejar a alguém nesta altura do ano =)

Inicio o do ano a escrever-vos enquanto mães/ pais, tias (os), irmãs (ãos) e outros tantos parentescos e até mesmo amigos de crianças. Falo-vos neste artigo da obesidade infantil que tanto nos preocupa enquanto técnicos. Ouvimos muitas vezes nos meios de comunicação social que Portugal é o 2º país da Europa com maior prevalência de obesidade infantil. Vemos, com os nossos próprios olhos, que as crianças estão cada vez mais com excesso de peso (nova nomenclatura para chamarmos a obesidade). E pergunto eu: o que temos feito para contornar este flagelo que acontece em tão tenra idade?
Para terem uma noção de números, apresento-vos os últimos dados da prevalência da obesidade infantil num estudo que se repete a cada 2 anos, desde 2008. É o COSI - European Childhood Obesity Surveillance Initiative, promovido pela OMS – Organização Mundial de Saúde, no qual Portugal também participa como membro da Comunidade Europeia. A obesidade infantil é um problema de saúde pública em todo o mundo. Tem aumentado muito, com 400,000 novos casos por ano, juntando aos 45 milhões de crianças com excesso de peso já existentes. Este estudo incide em crianças entre os 6 e os 8 anos. Normalmente nestes estudos os resultados são analisados consoante 3 tipos de tabelas: OMS (Organização Mundial de Saúde), CDC (Center for Disease Control and Prevention) e IOTF (The International Obesity TaskForce). Assim, em 2008, os resultados deste estudo de acordo com estas tabelas foram:

- IOTF: 28,1%
- CDC: 32,2%
- OMS: 37,9%

Os primeiros resultados, em 2008, mostraram-nos uma prevalência que ronda os 30% (este rondar os 30% já existe há algum tempo – em 2006, com outros estudos, rondava os 30%, mas eram efectivamente 27%, agora ronda os 30%, mas são efectivamente 32,2%) que todos já ouvimos falar. Mas se repararem no resultado obtido pelos percentis nas tabelas da OMS, temos 37,9%. Com isto quero-vos mostrar que no próximo ano a obesidade infantil vai aumentar, e muito!! Se ouvirem falar que a obesidade infantil ronda os 40%, não se admirem… já rondava!! Recentemente foram comunicados novos dados que mais de metade das crianças com menos de 5 anos tem excesso de peso
 
O que quero dizer com isto é que as novas curvas estão mais aproximadas à nossa realidade populacional e as alterações foram:
Fonte: jornal Público

- Começa-se a calcular o IMC à nascença; vamos acabar com o mito de que as crianças estão bem se o seu crescimento acompanhar a sua curva… qual curva?? Se uma criança nasce com P> 90 e assim se mantém até à idade adulta, é obesa desde que nasceu!! Esta mentalidade ainda existe (falo dos técnicos)!!

- As curvas vão ser mais apertadas! As crianças vão estar obesas com um IMC mais baixo…


Este assunto “obesidade infantil” é para mim muito delicado e até vos digo tabu! Tabu, no sentido de não tolerar muitas das vezes e não me calar com o que vejo e oiço! Tira-me do sério!! =) No que toca a crianças obesas, ao falar com os pais, sou tudo, menos politicamente correcta… muitas das verdades não são bem aceites pelos pais, eu sei, principalmente aos pais de filhos muito obesos e já com patologias associadas… ao falar assim para os pais, apenas quero que vejam a dimensão deste problema grave, aliás bastante grave!!

É um grave problema de saúde publica que a todos diz respeito!! Sendo a saúde o maior bem que se pode ter e não havendo dinheiro que a possa comprar, o que fazem os pais para a maximizar? Sabemos que somos aquilo que comemos e que de uma alimentação errada podem surgir inúmeros problemas de saúde, muitos deles crónicos, que diminuirão a esperança e a qualidade de vida das nossas crianças.

Acredito que esta geração de pais já saberá que a negligência na alimentação das crianças pode originar doenças como obesidade, diabetes tipo 2 (antigamente exclusiva dos adultos), aumento de risco de doença cardíaca, HTA, fígado gordo, problemas ortopédicos para além dos efeitos psicológicos e sociais que acarreta: baixa autoestima, fraca imagem corporal, dificuldade em se relacionar com outras crianças.

Porque se recompensa, para conseguir que a criança faça ou coma algo, com comida (má)? Porque se faz outro prato quando essa mesma criança “diz que não gosta” (mas até gosta porque come na escola – só não tem outro remédio se não comer)? Porque se diz “coitadinho, então não pode beber sumos o que é que bebe?” Porque se diz “já viu, os outros vão ao bar da escola e ele come o que leva de casa?!” ou “os outros almoçam no café ou no restaurante e ele vai almoçar sozinho?”

Isto são perguntas/expressões que oiço todos os dias!! E não sei se são da mesma opinião, mas realmente todas estas expressões revelam crianças “coitadinhas” (palavra que abomino)!! Não as classifico de coitadinhas, mas sim de sofredoras!! Na escola, quando são as ultimas a ser escolhidas na aula de educação física, ou quando há uma alcunha associada, ou quando há a pesagem nas aulas de educação física para os testes vai-e-vem, e o professor diz o peso em alto – os adolescentes faltam a estas aulas!, ou quando a senhora do refeitório diz que a criança não pode repetir porque “estás gorda(o), ou em casa, já que nunca ninguém tem culpa a não ser o próprio!! Não sei se é o que acontece em vossas casas, mas as crianças comem bolachas porque as compram, comem fritos porque os fazem, não comem a sopa e saladas porque não as fazem, não bebem água porque compram sumos!!! Enfim, um rol de situações que acontecem em casa de cada um em que a culpa é de quem tem peso a mais e nunca de quem manda lá em casa (leia-se, administra a gestão caseira)!!

Quando há a consulta ouve-se “eu avisei-te”, “eu escondo as coisas, mas ele come na mesma”, “tenho que ter estas coisas lá em casa porque o mais pequeno não tem culpa deste não poder comer”, “tens que ter força de vontade”, “tu é que tens peso a mais”, etc., etc, etc… um sem fim de expressões que me fazem dizer o que quero e o que não com bons ou menos bons modos conforme o dia esteja a correr! =) Agora coloquem-se no lugar duma criança com excesso de peso (em desenvolvimento a todos os níveis) com vontade de mudar e as pessoas que ela mais admira, são o seu maior obstáculo para atingir um estado de saúde e bem-estar!!! Não é fácil seja em que idade for, mas desta forma nunca vai conseguir e a situação tende a piorar e depois vemos as obesidades que vemos…

Não tenhamos dúvidas de que se as crianças não receberem uma alimentação adequada, a sua saúde correrá sérios riscos. E, por muito que se queiram arranjar bodes expiatórios para a alarmante obesidade infantil, são os educadores, sobretudo os PAIS, que permitem que as crianças comam o que querem porque, hoje, em dia, dizer NÃO a uma criança parece ser sinónimo de ser mau pai ou mãe... e agora escrevo-vos só o que uma criança disse a uma mãe que ao fim de 2 anos apareceu à consulta com a criança, e após um quase 100% confirmado diagnóstico de diabetes: enquanto eu dizia à mãe que era necessário não comprar asneiras e dizer que não algumas vezes, a miúda olha para a mãe e diz-lhe “sabes mãe, as pessoas que mais nos dizem não, são aquelas que mais gostam de nós”. Isto desarma qualquer um!!!

Não imaginam a quantidade de crianças que ultimamente me têm aparecido com estes diagnósticos: HTA, diabetes, colesterol, fígado gordo!!! Mais do que em quase todos os anos que aqui trabalho… bem, mas chega de desabafos e de mostrar o mau feitio e vamos falar de soluções…

Vejamos quais são os principais factores relacionados com a alimentação que podem despoletar uma obesidade:
- Aleitamento por biberão com leite artificial nos primeiros meses de vida e introdução de novos alimentos para além do leite materno ou do leite de substituição antes dos 4 meses de vida.
- Não reconhecimento ou desrespeito aos sinais que a criança está satisfeita. Quantas vezes as mães oferecem 2 iogurtes ao lanche, sendo que o 2ª não é um iogurte =) (o tal mais pequeno para a criança crescer =))
- Baixo consumo de frutas e vegetais;
- Comem diariamente em casa (e na escola) bolos em vez de pão, refrigerantes em vez de água, não tomam leite nem iogurtes porque gostam mais de colas ou ice tea, ingerem quilos de bolachas cheias de açúcar e gorduras nocivas. Gostam de leite com chocolate, bebam o da escola… é saudável, adequado às crianças e com doses de açúcar e cacau aceitáveis.
- Consumo excessivo de calorias com um consumo regular de alimentos fora de casa.
- Falta do pequeno-almoço. Como queremos que o nosso filho faça essa refeição, se nós também não a fazemos?
- Pressões para comer toda a refeição servida ou determinados alimentos. A pressão que se faz para que as crianças comam e proibi-las saírem da mesa enquanto não comer é promover a aversão a determinados tipos de alimentos. Solução? Quando tiver fome, come o que não comeu… era o que a minha mãe me fazia!! E criei-me! =) =) Custa, mas é para o seu próprio bem.
 
Por onde devemos começar?
Primeiro que tudo há que tomar consciência de que os pais são os principais responsáveis pela saúde dos filhos, quando se trata de doenças evitáveis. Costumo comentar com os pais que se quando os meninos são pequenos, tapam as tomadas para não apanharem choques, guardam os objectos cortantes para o menino não se cortar, com os mais velhos não podem participar na preparação dos alimentos porque é com facas, vacinam os meninos porque alguém lhes disse para o fazer, então porque compram alimentos nutricionalmente maus, ricos em gordura e açúcar e lhos disponibilizam??? Porque os recompensam com a alimentação em vez de ser com atenção?! Com isto, de quem é a culpa? Volto a repetir, as crianças não fazem compras, só comem o que têm nos armários ou frigorífico... Por isso, cabe aos pais a escolha dos mesmos! Sei que pode não ser fácil resistir à publicidade a alimentos, da bolacha A, B ou C ou dos cereais A ou B que fazem isto ou aquilo!! NÃO GASTEM DINHEIRO EM ALIMENTOS QUE NÃO ESTÃO NA NOVA RODA DOS ALIMENTOS!! (falo para consumo diário, obviamente)
 
Como recado final…

Nunca se esqueçam que são o exemplo! Quando os pais forem, pelas boas práticas, uns bons exemplos, podem esperar que os filhos comam correctamente. Se o pai ou a mãe comem sopa/peixe/saladas, então a criança também come! Agora, não corram o risco de lhe perguntar se quer… obvio que não!!
Ainda não estamos formatados para a prevenção, mas este recado é para quem tem filhos, independentemente do seu peso! Nunca sabemos o dia de amanhã e esta é uma forma de não nos arrependermos mais tarde, enquanto educadores, de não termos investido na educação alimentar dos mais novos. A obesidade deixa sempre marcas e todos aqueles que tenham oportunidade devem ajudar a combater este mal.

Espero que tenha passado o meu ponto de vista! =) Desculpem-me o tom das palavras, mas chegámos a um ponto que não dá para falar de mansinho! Este problema tomou dimensões que já não dependem apenas de nós educadores (pais, professores, técnicos), mas sim responsabilidades governamentais, principalmente no que respeita à política das publicidades. Quanto a isto cabe-nos a nós, enquanto cidadãos, não correr atrás destes enganos, procurar informação fidedigna e/ou perguntar a quem sabe! Há dúvidas, então não comentamos com a vizinha ou a amiga porque elas têm a mesma informação errada do que nós! Isto seja em que área da nutrição for."

Podem acompanhar a Ana na rubrica intitulada "Vida Saudável" que passa na Rádio Pax todas as quartas-feiras pelas 10h15.  

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Laboratório FITsalvador: Treino vs Massa Gorda vs Dieta [+1 caso sucesso]

Queremos mostrar mais um exemplo da eficácia da metodologia FITsalvador na luta contra o excesso de peso...

Antes, é necessário clarificar alguns termos...
Reduzir o peso nem sempre significa emagrecer! (se apenas se perdeu massa magra)
Aumentar peso nem sempre significa engordar! (se apenas se aumentou massa magra)

É frequente, mesmo com os nossos atletas, usar a expressão "se querem perder peso, fechem a boca"... efectivamente o peso que nos dá a balança (em kg) está directamente relacionado com a quantidade de alimentos que ingerimos.
Se não comerem, certamente não acumulam...

Mas...

Quando optam por essa opção isoladamente (sem exercício) o resultado será certamente uma redução na balança (em kg) mas à custa essencialmente de massa magra, e não de gordura!

Porquê?
Assim à pressa encontro duas razões fundamentais:
  1. A gordura é a fonte de energia mais rentável para o nosso organismo, e assim que é accionado o "mecanismo anti-fome", o nosso organismo desfaz-se daquilo que lhe é muito dispendioso sustentar... o músculo...o que me leva à 2ª razão...
  2. O exercício é fundamental, não directamente na redução do peso (em kg), mas na manutenção da massa magra (músculo), e se não existirem estímulos suficientemente fortes para que organismo perceba que o músculo afinal faz falta... ele defender-se-á da privação de alimentos reduzindo a matriz proteica dos músculos (pensem no que sucede a um braço depois de estar engessado...)
Consequências...
A longo prazo é de longe a pior opção, e o voltar a recuperar o peso perdido vai trazer consequências piores do que no ponto de partida... a massa magra é o garante da manutenção do peso perdido a longo prazo!

Tudo isto fica evidente neste exemplo em que a nossa recente atleta (1mês de treino) estava já à 2 anos sendo seguida pela sua nutricionista e cumprindo escrupulosamente a prescrição, mas sem praticar exercício (apesar dos apelos da nutricionista).

Claramente, ao longo dos meses, observa-se uma redução do peso mas se repararmos na percentagem do peso a que corresponde a gordura rondou sempre os mesmo valores, sem nunca baixar a "zona de risco".
O que significa, ao longo destes meses, que a redução do peso foi essencialmente à custa de massa isenta de gordura...

Após alguma insistência por parte da nutricionista, a atleta decide tentar a sua sorte... e eis que acontece isto (ponto amarelo marca a data de início dos treinos):
[clique para ampliar]

Monitorização de uma atleta FITsalvador antes e após o início dos treinos:
  
Em 30 meses de dieta, dos 13kg que perdeu apenas 6kg corresponderam a gordura...
E em apenas um mês de treino derreteu 4kg de gordura!

Ou noutra perspectiva, em 30 meses reduziu apenas 7g de gordura por dia, e em apenas 1 mês de dieta+exercício incinerou mais de 130g de gordura a cada 24horas!!!!!

SÃO QUASE 20X MAIS!!!!
 
O exercício é fundamental, em conjunto com a dieta, em todo este processo!

Agora, não é qualquer exercício...

Caminhadas, corridas, e outros exemplos de CARDIO "lentilongo" certamente não são estímulos suficientemente competentes para preservar, ou aumentar,  a massa magra!

Um estudo de caso vale o que vale, e como não queremos ser demagogos, vejam este estudo de 1997... sim, não é novidade nenhuma...


Neste caso dividiram a amostra (25 homens e 40 mulheres obesos, 19-48 anos) em 3 grupos em que um realizava treino de força+dieta, outro cardio+dieta, e um terceiro apenas dieta...

O grupo que dedicou o seu treino à força foi o que reduziu menos massa isenta de gordura, contribuindo assim, apesar da dieta, para a manutenção do um metabolismo elevado e da capacidade funcional.

Já faz sentido tanta aversão ao CARDIO?
Para além de chato, não serve!

Am J Clin Nutr. 1997 Sep;66(3):557-63. 
Geliebter A, Maher MM, Gerace L, Gutin B, Heymsfield SB, Hashim SA. 

Obesity Research Center, St Luke's-Roosevelt Hospital, Columbia University College of Physicians and Surgeons, New York, NY 10025, USA