As teorias da conspiração valem o que valem... se o homem foi à lua... se os líderes sul americanos são vitimas dos americanos imperialistas... não me tira o sono.
Somos de facto umas marionetas nas mãos desta gentalha... e o fitness e a nutrição não foge à regra.
A nossa Nutricionista de "serviço" levanta a ponta do véu...
Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista Equipa de Saúde Pública de Beja:
"O tema que
escolhi para o artigo deste mês é complexo! Denomino-o assim uma vez que não
está ao nosso alcance, enquanto técnicos ou até mesmo enquanto cidadãos,
combatê-lo! Enquanto técnica, apenas conseguirei ajudar na interpretação da
mensagem da publicidade e a leitura do rótulo! Falemos este mês de Publicidade
e Rotulagem!!
Quando
falamos nos conceitos que envolvem divulgação de informação, deparamo-nos com o
conceito de Publicidade e Propaganda, entre outros... nas minhas pesquisas,
encontrei estas definições, que considerei as que mais influenciam as nossas
escolhas:
Silva
(1976) define Publicidade como um meio de tornar conhecido um produto, um
serviço ou uma forma.
O mesmo
autor, diz que Propaganda significa divulgação de mensagens por meio de anúncios,
com o fim de influenciar o público como consumidor de um produto.
A Minha
definição de Publicidade ... é uma “arma de sedução” poderosa que atrai
os consumidores. Faz-nos ver e desejar algo, mesmo antes de o ter. Apelando às
nossas emoções, altera-nos a percepção... E é esta percepção que faz com que
não saibamos interpretar a mensagem que esta publicidade tem por detrás do
produto.
Todos
sabemos do impacto que a publicidade tem sobre nós! Embora no nosso
subconsciente nos julguemos imunes, e eu incluo-me neste grupo, não são só os
outros que se deixam “levar” por ela. Para que não nos deixemos levar por esta
Publicidade, há que ter alguns conhecimentos na área da alimentação (conhecer o
que os alimentos nos dão, o seu valor calórico e nutricional, saber interpretar
o rótulo, etc.).
Mas,
na verdade, as técnicas publicitárias têm como objectivo levar-nos a comprar um
determinado produto, mesmo que este não nos faça falta. Um exemplo, são as
promoções no que se refere a preços... “compre 4, pague 3”... façam as contas
quanto a estas promoções e verão que, em alguns casos, comprar à unidade é mais
barato... ou “vou comprar porque pode fazer falta, pode aparecer alguém”... e
se esse alguém não aparece? E se entretanto o produto estiver a perder a sua validade?
Somos nós que o consumimos... ou então, “vou levar porque queima gorduras” ou
“são aquelas bolachas que ajudam a transformar a gordura em massa muscular”...
enfim, um rol de mensagens passadas nos media
que nos levam a ser uns desgovernados ao encher o carrinho do supermercado.
No meu
dia-a-dia profissional deparo-me com pessoas cada vez mais baralhadas com todas
estas mensagens publicitárias. São produtos
pró-bióticos (devem os seus efeitos saudáveis aos organismos vivos) ou pré-bióticos (essencialmente,
fibras que beneficiam a flora intestinal), iogurtes
e manteiga para baixar o colesterol, para reduzir a hipertensão (acho que estes já saíram do
mercado), pão sem colesterol
(“e esta, hein?”), produtos
milagrosos à base de soja ou aloé vera (este cacto é fantástico! O seu
extracto é utilizado desde nos iogurtes ao detergente para a roupa, passando
pelo papel higiénico!), produtos
light ou diet (chocolates, refrigerantes, etc.), bolachas e cereais que fazem emagrecer ou que, como já
referi, ajudam a transformar a massa gorda em massa muscular (bem melhores e
mais leves do que andar a “penar” no FITsalvador!), águas com sabores, e até mesmo os produtos destinados a diabéticos que “não engordam”... entre
muitos outros...
Mesmo que
sejamos incrédulos quanto às mensagens que
a publicidade nos impinge, compramos estes produtos milagrosos como se
duma cura se tratasse para os nossos males! :)
Afinal,
onde está a verdade de tudo isto?
Não é fácil
estabelecer um limite, uma vez que parte destas mensagens se mistura com
crenças e mitos originando uma enorme confusão no que toca à escolha destes
produtos. Infelizmente, devido ao grande problema da obesidade, este é um ponto
fraco que a publicidade encontrou para chegar aos consumidores. Todos queremos
milagres, e esses milagres são vendidos em forma de bolachas, cereais, pão,
iogurtes e muitos outros produtos.
Mas o
engraçado, sem ter graça nenhuma, é que, por um lado, temos as alegações de
saúde evidentes e divulgadas nos produtos que supostamente emagrecem, mesmo que
não seja verdade; e por outro, a publicidade a produtos que engordam muito e
nada dizem quanto a isso.
Interpretemos algumas informações:
Referi
atrás um pão sem colesterol. Isto é ridículo!! Também, há uns anos,
encontrava batatas sem colesterol!! Ridículo porquê? Porque quando compramos um
pão sem colesterol, é precisamente como ele deve ser... O pão não tem
colesterol!! O problema aqui é que será um pão mais caro pela alegação
nutricional que tem... como contornar isto? Comprar pão na padaria!
E pergunto
eu: porque se pode dizer que um pão não tem colesterol e não se
é obrigado a referir quando tem?? Um pão com colesterol tem nos seus
ingredientes leite, manteiga, açúcar e estes, sim deveriam ter no seu rótulo a
referência obrigatória de conter colesterol.
Qual a
diferença entre a manteiga magra e a manteiga normal? A manteiga é feita a partir
da gordura do leite... será um pouco difícil de obter um produto magro. O que isto
significa é que em 100g de produto, 50g poderão ser em água. Na prática como é
um produto sem sabor e com menos calorias, permite-nos comer maior quantidade o
que irá ser igual a consumir o produto original (quando consumido
conscientemente).
As águas
com sabores entram na categoria dos refrigerantes! Isto porque, embora
poucas, têm calorias e têm o sabor. Duas das características da água são
precisamente o contrário destas que enumero: não tem calorias e é insípida (sem
sabor).
Bolachas e
cereais integrais ou com fibras são designados muitas vezes como
produtos que “fazem emagrecer”.
Porquê se nenhum produto o faz? As fibras dão-nos saciedade, mas muitas vezes
os produtos que são ricos em fibra, são-no também em gorduras e açúcar. Quem já
não pegou numa bolacha destas e ficou com as mãos cheias de gordura? :)
E se
compararmos o valor calórico dos produtos “para emagrecer” com os produtos
açucarados, a diferença será pouca. Além de que o consumo excessivo de fibras
poderá ser prejudicial, afectando o trânsito intestinal...
Quando
existe esta alegação “rico em fibras”, seria muito importante e útil que o
produto incluísse a informação de quando se aumenta o consumo deste nutriente é
obrigatório aumentar a ingestão de água, sob pena de a obstipação e outros
problemas intestinais serem agravados.
Os iogurtes
e as manteigas para baixar o colesterol, têm fundamento cientifico mas são
levadas tão a sério, que se confundem com medicamentos milagrosos,
esquecendo-se as pessoas de que há que fazer mudanças no estilo de vida para
que o objectivo da baixa de colesterol seja atingido.
Resumindo… costumo dizer que os produtos a
dar preferência são aqueles que não têm publicidade, ou seja, os que vêm na Roda dos Alimentos.
Há
publicidade à carne, peixe e ovos? NÃO!
Há
publicidade ao pão alentejano de mistura e aos seus equivalentes, como o arroz,
batatas, feijão, grão, etc.? NÃO!
Há
publicidade à fruta fresca? TAMBÉM NÃO!
Há
publicidade à manteiga na sua forma normal? NÃO!
Com isto
digo-vos que não há publicidades aos
produtos considerados matérias-primas… há sim, aos produtos
transformados! Estes sim, responsáveis pelo aumento de peso e doenças
associadas (obviamente quando consumidos em excesso – quantidade e frequência
de consumo)!
Não só
interpretando a publicidade conseguimos fazer boas escolhas! A rotulagem dos
alimentos também nos ajudará...
O rótulo é considerado o bilhete
de identidade do produto alimentar. Nele, deverão constar todas as informações
relativamente ao produto que procuramos. Num rótulo existem menções
obrigatórias e facultativas. Quando faço um ensino alimentar enumero sempre duas informações importantes: a lista de ingredientes e a informação nutricional. A lista de
ingredientes faz parte das menções obrigatórias e a informação nutricional, das
menções facultativas.
Para uma
escolha acertada ambas são importantes saber interpretar. Estas comparações
deverão ser sempre feitas entre produtos similares: magros, integrais,
meio gordos, etc.. e já agora
comparem também o produto original relativamente ao seu produto com alegações
nutricionais ou cuja publicidade promete um produto milagroso e com poucas
calorias. J J
O que nos
diz a lista de ingredientes?
-
primeiro que tudo, os ingredientes encontram-se por ordem decrescente, ou seja, do
que existe em maior quantidade para o que está em menor quantidade;
-
neste item poderemos ter a noção do tipo de nutrientes que aquele
alimento contém: tipo de gorduras, açúcares, aditivos, etc.;
-
gorduras
hidrolisadas, hidrogenadas, trans não
devem constar nesta lista;
-
existem alguns açúcares
escondidos nos produtos alimentares: açúcar/amido invertido; xaropes de
...; todas as palavras que terminem em “ose” (frutose, galactose, lactose,
etc.).
Desafio-vos
a fazer uma pesquisa destes ingredientes nos produtos... os que não os contiverem, são considerados a melhor escolha! =)
Por exemplo:
Qual será a
melhor escolha? Se quiser comprar umas bolachas... sendo as listas de
ingredientes as seguintes:
1 – farinha de trigo, farinha de
centeio, gordura
2 – farinha de trigo, gordura,
farinha de centeio
3 – farinha de centeio, farinha de
trigo, gordura
4 – farinha de centeio, gordura,
farinha de trigo
gostava de
ver as respostas nos comentários =)
O que nos
diz a informação nutricional?
Esta
informação é encontrada sob duas formas: simples
e completa. Neste tipo de
informação aparecem descritos os nutrientes
calóricos (proteína, hidratos de carbono e gorduras) e os nutrientes não calóricos (vitaminas,
minerais, fibras, sódio, etc.).
Na tabela seguinte dou o exemplo destes tipos de rotulagem:
Rotulagem
simples
|
Rotulagem
completa
|
||
Kcal/Kj
|
Kcal/Kj
|
||
Proteínas
|
Proteínas
|
||
Hidratos de carbono
|
Hidratos de carbono
|
||
dos
quais: açúcares
|
|||
amido
|
|||
Gordura
|
Gordura
|
||
das
quais: Saturadas
|
|||
Monoinsaturadas
|
|||
Polinsaturadas
|
|||
Fibras
|
|||
Sódio
|
|||
Vitaminas
|
|||
Minerais
|
Os espaços preenchidos a cor
referem-se aos ingredientes que devem estar em maior quantidade (verde) e em menor quantidade (vermelho).
Com esta informação poderemos ter a
noção no que é que os alimentos são calóricos. Se em gordura, açúcar e de que
tipo de açúcar (absorção rápida ou lenta) ou se em proteína.
-
A
designação de “açúcares” refere-se sempre a açúcares simples – absorção
rápida – sacarose, frutose, lactose.
-
O
amido é um açúcar completo - absorção lenta, que nos dá saciedade e que
de certa forma, arrisco-me a dizê-lo, ajuda na perda de peso. =)
-
As
gorduras todos sabemos que as saturadas são indesejadas. As restantes têm
benefícios na saúde. Obviamente que não deverão ser consumidas em excesso já
que todas elas têm o mesmo valor calórico.
-
A
fibra é considerada um
hidrato de carbono. No entanto não tem valor calórico. Dá saciedade tal como o
amido, mas quando consumida em excesso o efeito benéfico que tem no trânsito
intestinal pode ser contrário ao desejado. Daí a importância da água quando se
consomem muitas fibras. São de dois tipos: solúveis e insolúveis.
-
O
valor de sódio (Na+) que nos
aparece na rotulagem não se refere ao sal como o conhecemos. O sal que
utilizamos é NaCl. Para termos o valor total de sal tal como o conhecemos, há
que multiplicar o valor que vem na embalagem por 2,5. Ou seja, se o valor de
Na+ for de 0,3g, temos na realidade 0,75g de sal.
-
Curiosidades:
o
O
valor calórico de cada nutriente é: proteína
– 4 Kcal; hidratos de carbono – 4
Kcal; gorduras – 9 Kcal. Qual destes
engorda mais? =)
o
Em
alguns produtos, como os produtos lácteos, quando aparecem valores diferentes
entre os açúcares, ou seja, um valor destinado aos hidratos de carbono e outro
para “dos quais açúcares”, isto significa que foi adicionado açúcar ao
alimento. Mesmo sem essa alegação, é um produto açucarado.
Penso que neste artigo já ficam com
alertas suficientes para realizarem boas escolhas. Percam algum tempo no
supermercado a ler os rótulos. Não vão atrás de Publicidades só porque fazem o
milagre da perda de peso. A perda de
peso consegue-se com esforço, físico
e psicológico, e não comendo produtos
milagrosos só porque alguém disse na televisão."
Podem acompanhar a Ana na rubrica intitulada "Vida Saudável" que passa na Rádio Pax todas as quartas-feiras pelas 10h15.
Bom dia :)
ResponderEliminarMais uma vez um grande texto, Ana. Parabéns pela dedicação e empenho em tornar saudável a vida daqueles que te rodeiam.
Concordo com tudo o que dizes e nunca fui atrás dessa publicidade que pouco se importa com a saúde dos consumidores, mas sim em vender e tornar conhecido o seu produto, diferenciando-o da concorrência atroz que se vive.
Em relação aos ingredientes das bolachas, prefiro o número 3 (centeio, trigo, gordura). Aguardo a tua sugestão ;)