E isso associado ao movimento temos a BIOMECÂNICA!
Ter a oportunidade de leccionar esses conteúdos é uma das
maiores realizações profissionais que tenho alcançado.
E infelizmente, entre os comentários menos felizes que vou
ouvindo dos meus alunos da Licenciatura ou do Curso de Especialização está
“Isso (biomecânica/análise do movimento) vai-me servir para quê?!?”…
Enfim, não é fácil incutir nestes futuros colegas o gosto pela
matemática, física, mecânica e raciocínio abstrato… o melhor mesmo é demonstrar
para que serve, e como a manipulação destas variáveis os poderá tornar melhores
profissionais, seja no ensino escolar, desportos colectivos/individuais ou no
mercado do Fitness.
Propusemo-nos a comparar 2 movimentos muito semelhantes na
sua mecânica, mas com participações muscular absurdamente diferentes, e em
última análise, com resultados finais expectáveis também diferentes… a flexão
de braços (push-up) e a prensa de peito/supino (chest press).
(Outro ponto a reter é a também
absurda relação custo(€)/benefício/portabilidade de ambos os movimentos.)
Como em todos os objectos de estudo, e principalmente em
comparações redutoras, é necessário criar um protocolo que uniformize, tanto
quanto possível, o padrão de movimento, e a carga/intensidade.
O primeiro passo foi realizar uma flexão de braços com
os pés em cima da balança e, subtraindo esse valor à massa total do atleta,
registar o valor em kg suportado por toda a cadeia superior. Valor em extensão =
48kg | Valor em flexão = 51,6kg
Assim, o valor a ser reproduzido num supino ou aparelho de prensa
de peito seria o valor médio +- 50kg.
A primeira limitação que encontrámos foi a impossibilidade de
manipular a carga na flexão de braços, que estaria dependente da massa (kg) do
atleta, pelo contrário quando utilizamos as cargas externas é possível aumentar
e diminuir intensidade a nosso belo prazer.
Para contornar esse problema, e para que este ensaio pudesse
servir para inferir nas melhores soluções para o FAT LOSS, decidimos manipular
os tempos de execução dos movimentos: 30s contração excêntrica e 30s
concêntrica, ou seja, 30s para descer e 30s para retomar a posição inicial.
O primeiro dado que retirámos é que, nestas condições,
apenas foi possível realizar uma repetição máxima voluntária…
Fomos reproduzir o mesmo protocolo no supino e no aparelho
de prensa: 50kg 30’’,30’’
(nota: o sujeito objecto de estudo foi sempre o mesmo tarzan…
esta representação do movimento no aparelho é apenas para o rapaz aparecer na
foto)
Foi com alguma surpresa que registámos que, também, apenas
foi possível realizar uma repetição máxima voluntária nestas
condições/aparelhos… estaríamos certamente subvalorizando a percepção
subjectiva da intensidade destes exercícios.
Mas este facto colocava o protocolo em pé de igualdade nos 3
contextos, minimizando assim qualquer propagação de erro grosseira.
Primeira conclusão (redutora) é que é possível utilizar a
flexão de braços no HIT (High Intensity Training), treino de alta intensidade caracterizado
por repetições superlentas até à exaustão, e ideal para a hipertrofia e FAT
LOSS… para além da portabilidade do exercício e do seu (não) investimento.
Mas quisemos ir mais longe nesta análise, e não seria
difícil concluir que a participação muscular para vencer esta carga de +-50kg seria manifestamente diferente nos 3
contextos: maior participação/dissipação muscular nas flexões de braços
(vantagem FAT LOSS), e participação mais localizada nos aparelhos e, inevitavelmente,
mais intensa para os grupos solicitados.
São muitos os estudos electromigráficos onde podemos
comprovar estas diferenças nas contracções musculares, e na sua maioria os
autores sugerem a análise biomecânica dos movimentos para uma prescrição mais
adequada.
Como os movimentos em análise são realizados em planos diferentes (sentados/deitados), e o único comum seria o plano sagital, agrupamos os planos Frontal (push-up) e Horizontal (chest-press) de acordo com o plano do vector força.
Resultados
Torques tornozelo no plano Sagital [N.m]
· Push-up
o
Extensão (15º) = 577,3 N.m
o
Flexão (0º) = 595,2 N.m
· Chest-Press = 0 N.m!!!!!
o
O torque é nulo no tornozelo, ombro ou cotovelo
pois o vector força e o braço de força coincidem (seno 0º = 0)
Push-up e Chest-press (SUM braços, antebraços,
cabeça)
o
Extensão (15º) = -42,2 N.m
o
Flexão (0º) = -25,1 N.m
·
Apenas
Push-up (SUM perna, coxa, tronco)
o
Extensão (15º) = 172,1 N.m
o
Flexão (0º) = 324,4 N.m
SOMATÓRIO TORQUES
·
Chest-press (apenas plano horizontal)
o
Extensão (15º) = -42,2 N.m
o
Flexão (0º) = -25,1 N.m
·
Push-up (plano
sagital e frontal)
o
Extensão (15º) = 707,2 N.m
o
Flexão (0º) = 894,5 N.m
Mesmo assumindo eventuais erros grosseiros, quer na medição
dos ângulos, nos valores padronizados de peso relativo de cada segmento, ou no
transfer forçado de um gesto para
outro (cargas dinâmicas), regista-se uma diferença gritante na funcionalidade entre
cada exercício…
Neste exemplo comprova-se que a flexão de braços é, em módulo, 30 (trinta) vezes superior a qualquer um dos outros exercícios.
Neste exemplo comprova-se que a flexão de braços é, em módulo, 30 (trinta) vezes superior a qualquer um dos outros exercícios.
É imperativo que este facto seja tido em conta quando
prescrevemos exercício em função de um objectivo específico (habilitar para a
função, reabilitação, hipertrofia, FAT LOSS), e quando pensamos em
investimentos que, de acordo com o objectivo, poderão ser desnecessários.
tá fixe!!
ResponderEliminarTens de me explicar esse estudo com calma um dia! Gosto disto!
=)
ResponderEliminarGrande João
Com prazer, vai ser muito interessante essa partilha!
Entretanto, aqui tens todos os cálculos e medições
https://www.dropbox.com/s/6w2az55d6uwo64i/Push-up%20vs%20Chest%20Press.pdf
Abraço