sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Laboratório FITsalvador: Push-up vs Chest-Press

Uma das minhas grandes paixões é a Física Clássica: cinética, cinemática, Leis de Newton…
E isso associado ao movimento temos a BIOMECÂNICA!

Ter a oportunidade de leccionar esses conteúdos é uma das maiores realizações profissionais que tenho alcançado.

E infelizmente, entre os comentários menos felizes que vou ouvindo dos meus alunos da Licenciatura ou do Curso de Especialização está “Isso (biomecânica/análise do movimento) vai-me servir para quê?!?”…

Enfim, não é fácil incutir nestes futuros colegas o gosto pela matemática, física, mecânica e raciocínio abstrato… o melhor mesmo é demonstrar para que serve, e como a manipulação destas variáveis os poderá tornar melhores profissionais, seja no ensino escolar, desportos colectivos/individuais ou no mercado do Fitness.

Propusemo-nos a comparar 2 movimentos muito semelhantes na sua mecânica, mas com participações muscular absurdamente diferentes, e em última análise, com resultados finais expectáveis também diferentes… a flexão de braços (push-up) e a prensa de peito/supino (chest press).

(Outro ponto a reter é a também absurda relação custo(€)/benefício/portabilidade de ambos os movimentos.)

Como em todos os objectos de estudo, e principalmente em comparações redutoras, é necessário criar um protocolo que uniformize, tanto quanto possível, o padrão de movimento, e a carga/intensidade.

Carga:

O primeiro passo foi realizar uma flexão de braços com os pés em cima da balança e, subtraindo esse valor à massa total do atleta, registar o valor em kg suportado por toda a cadeia superior. Valor em extensão = 48kg | Valor em flexão = 51,6kg 

Assim, o valor a ser reproduzido num supino ou aparelho de prensa de peito seria o valor médio +- 50kg.

A primeira limitação que encontrámos foi a impossibilidade de manipular a carga na flexão de braços, que estaria dependente da massa (kg) do atleta, pelo contrário quando utilizamos as cargas externas é possível aumentar e diminuir intensidade a nosso belo prazer.


Para contornar esse problema, e para que este ensaio pudesse servir para inferir nas melhores soluções para o FAT LOSS, decidimos manipular os tempos de execução dos movimentos: 30s contração excêntrica e 30s concêntrica, ou seja, 30s para descer e 30s para retomar a posição inicial.


O primeiro dado que retirámos é que, nestas condições, apenas foi possível realizar uma repetição máxima voluntária…


Fomos reproduzir o mesmo protocolo no supino e no aparelho de prensa: 50kg 30’’,30’’


(nota: o sujeito objecto de estudo foi sempre o mesmo tarzan… esta representação do movimento no aparelho é apenas para o rapaz aparecer na foto)

Foi com alguma surpresa que registámos que, também, apenas foi possível realizar uma repetição máxima voluntária nestas condições/aparelhos… estaríamos certamente subvalorizando a percepção subjectiva da intensidade destes exercícios.

Mas este facto colocava o protocolo em pé de igualdade nos 3 contextos, minimizando assim qualquer propagação de erro grosseira.

Primeira conclusão (redutora) é que é possível utilizar a flexão de braços no HIT (High Intensity Training), treino de alta intensidade caracterizado por repetições superlentas até à exaustão, e ideal para a hipertrofia e FAT LOSS… para além da portabilidade do exercício e do seu (não) investimento.

Mas quisemos ir mais longe nesta análise, e não seria difícil concluir que a participação muscular para vencer esta carga de +-50kg  seria manifestamente diferente nos 3 contextos: maior participação/dissipação muscular nas flexões de braços (vantagem FAT LOSS), e participação mais localizada nos aparelhos e, inevitavelmente, mais intensa para os grupos solicitados.

São muitos os estudos electromigráficos onde podemos comprovar estas diferenças nas contracções musculares, e na sua maioria os autores sugerem a análise biomecânica dos movimentos para uma prescrição mais adequada.
 
Foi a isso que nos propusemos: análise cinética ou torques.

Como os movimentos em análise são realizados em planos diferentes (sentados/deitados), e o único comum seria o plano sagital, agrupamos os planos Frontal (push-up) e Horizontal (chest-press) de acordo com o plano do vector força.

Resultados

Torques tornozelo no plano Sagital [N.m]
·     Push-up
  o   Extensão (15º) = 577,3 N.m
  o   Flexão (0º) = 595,2 N.m
·      Chest-Press = 0 N.m!!!!!
  o   O torque é nulo no tornozelo, ombro ou cotovelo pois o vector força e o braço de força coincidem (seno 0º = 0)



Torques cotovelo no plano Frontal (push-up) e Horizontal (chest-press) [N.m]·
         
  Push-up e Chest-press (SUM braços, antebraços, cabeça)
o   Extensão (15º) = -42,2 N.m
o   Flexão (0º) = -25,1 N.m
·        
  Apenas Push-up (SUM perna, coxa, tronco)
o   Extensão (15º) = 172,1 N.m
o   Flexão (0º) = 324,4 N.m

SOMATÓRIO TORQUES
·         Chest-press (apenas plano horizontal)
o   Extensão (15º) = -42,2 N.m
o   Flexão (0º) = -25,1 N.m
·         Push-up (plano sagital e frontal)
o   Extensão (15º) = 707,2 N.m
o   Flexão (0º) = 894,5 N.m

Mesmo assumindo eventuais erros grosseiros, quer na medição dos ângulos, nos valores padronizados de peso relativo de cada segmento, ou no transfer forçado de um gesto para outro (cargas dinâmicas), regista-se uma diferença gritante na funcionalidade entre cada exercício… 

Neste exemplo comprova-se que a flexão de braços é, em módulo, 30 (trinta) vezes superior a qualquer um dos outros exercícios.
É imperativo que este facto seja tido em conta quando prescrevemos exercício em função de um objectivo específico (habilitar para a função, reabilitação, hipertrofia, FAT LOSS), e quando pensamos em investimentos que, de acordo com o objectivo, poderão ser desnecessários.

Lab Book [clique]

Não hibernem... INCINEREM!!!
EVIDENCE vs BULLSHIT


2 comentários:

  1. tá fixe!!

    Tens de me explicar esse estudo com calma um dia! Gosto disto!

    ResponderEliminar
  2. =)

    Grande João
    Com prazer, vai ser muito interessante essa partilha!

    Entretanto, aqui tens todos os cálculos e medições

    https://www.dropbox.com/s/6w2az55d6uwo64i/Push-up%20vs%20Chest%20Press.pdf

    Abraço

    ResponderEliminar