segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Treino de força em crianças e adolescentes... Sim ou não?

Actualmente a presença dos pais nas actividades dos filhos é cada vez mais frequente. Esta participação é feita a todos os níveis quer escolar, social e desportivo. A participação dos pais na actividade desportiva deve ser  positiva e tem de ser sempre(!) uma mais-valia. Uma presença negativa tem sempre mais consequências que muitas presenças positivas.

Todos nós gostaríamos que o nosso filho fosse o próximo CR7... 

Com isso tem surgido um interesse no desenvolvimento atlético a longo prazo das nossas crianças. 


As recomendações correntes indicam-nos que devem participar diariamente em 60 ou mais minutos de actividade física "moderada a forte" para um desenvolvimento apropriado. O exercício físico regular não é apenas essencial para o normal desenvolvimento e crescimento, como também pode ajudar a reduzir o risco de doenças crónicas durante a idade adulta.

Além das típicas brincadeiras da "apanhada", do "esconda", da macaca - que primam pela sua vertente aeróbia-, a National Strength and Conditioning Association publicou um artigo em 2009 onde defende a utilização do treino de força em crianças e adolescentes.
Esta tomada de posição foi baseada numa análise abrangente de evidências científicas pertinentes sobre os efeitos anatómicos, fisiológicos e psicossociais do treino de força (resistance training). Um painel de especialistas da medicina desportiva,  treinadores/ professores com experiência clínica e prática desde exercício pediátrico, e treino de força contribuíram também.

Durante muitos anos o "levantamento de pesos", como ouvíamos chamar ao treino de força, foi visto como prejudicial e com um alto risco de lesão associado. Porém, muitas das lesões reportadas foram causadas, essencialmente, por técnica inadequada, excesso de carga, equipamento defeituoso e falta de supervisão qualificada. Durante toda a pesquisa foram encontrados apenas 3(!!!) artigos publicados que declararam lesões em crianças. O mais "grave" necessitou de uma semana de repouso.




É claro que, como em qualquer actividade, há sempre riscos e benefícios inerentes à prática. O risco de lesão no treino de força pode (e deve!) ser minimizado através de uma supervisão qualificada, prescrição apropriada, progressões adaptadas à realidade de cada criança e, escolha cuidadosa do equipamento a utilizar. A carga, o volume de treino, repouso e individualização devem também ser factores obrigatórios a ter em conta.
Durante a infância e adolescência, factores psicológicos relacionados com o crescimento e desenvolvimento são uma constante no processo de evolução. Um sem número de estudos científicos provam que crianças e adolescentes podem aumentar os seus índices de força - bem acima do processo de crescimento e maturação - realçando assim que um treino de força bem estruturado trará benefícios únicos.

Grande parte das forças a que as nossas crianças estão expostas nas diferentes modalidades podem ser bem maiores quer em tempo de exposição e magnitude do que, por exemplo, um teste de 1RM. 

Além das aparentes adaptações neuromusculares e possíveis adaptações musculares intrínsecas, este tipo de treino reduz o risco de possíveis doenças cardiovasculares, facilita o controlo de peso, fortalece os ossos, melhora as capacidades psicossociais, aumenta as habilidades motoras e diminui o risco de possíveis lesões.

Mesmo em crianças e adolescentes obesos - que são tradicionalmente encorajados a participar em atividades aeróbias, aumentando assim o risco de lesão (excesso de peso e movimentos repetitivos causam desgaste nas articulações) -, os mais recentes estudos reportam mudanças favoráveis na composição corporal após participarem num programa de treino de força (HIRT) ou treino de força em circuito (HICT).





Em suma, se as guidelines forem respeitadas, se cada programa de treino for prescrito de uma forma individualizada, ciente das virtudes e defeitos de cada um, se as crianças/adolescentes forem encorajados a melhorar e a ter prazer nos resultados que obtêm, os efeitos deste tipo de treino são únicos.

Mas lembrem-se: o mais importante de tudo é a felicidade das crianças, o prazer que devem sentir nas actividades que estão a realizar. Para que tudo isto faça sentido há que cultivar o gosto pela prática desportiva, pelos bons hábitos, pelo respeito próprio e principalmente o respeito pelos outros!


Bibliografia:
J Strength Cond Res. 2009 Aug;23(5 Suppl):S60-79. doi: 10.1519/JSC.0b013e31819df407.

Youth resistance training: updated position statement paper from the national strength and conditioning association.

Faigenbaum AD, Kraemer WJ, Blimkie CJ, Jeffreys I, Micheli LJ, Nitka M, Rowland TW.

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