Há um chavão (nosso) que não me canso de referir... "desconfiem sempre de soluções fáceis e ociosas..."
Hoje são estas, amanhã outras... naturalmente todos terão que ter um sustento legítimo mesmo que seja à custa da promoção de saúde ou da estética... os resultados/consequências ficam para outra economia...
A nossa Nutricionista de serviço levanta a ponta do véu...
Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista da Equipa Saúde Pública de Beja, e Consultora FITsalvador:
Hoje são estas, amanhã outras... naturalmente todos terão que ter um sustento legítimo mesmo que seja à custa da promoção de saúde ou da estética... os resultados/consequências ficam para outra economia...
A nossa Nutricionista de serviço levanta a ponta do véu...
Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista da Equipa Saúde Pública de Beja, e Consultora FITsalvador:
"“Obesidade epidemia do século XXI”… esta frase já
todos estamos fartos de ler e ouvir! No entanto, parece que muitas pessoas
ainda não sabem como resolvê-la. Muito se fala desta doença crónica dos tempos
modernos, mas a estratégias têm sido muitas e as contradições ainda mais! É
certo que estamos mais sensibilizados para este problema, havendo já tentativas
de mudanças de comportamento por iniciativa própria e não, apenas, por
imposição de outros (profissionais de saúde, por ex.).
A obesidade era doença de países desenvolvidos,
países do Ocidente. No entanto, já afecta muitos países subdesenvolvidos ou em
vias de desenvolvimento, como África ou a Ásia. Enquanto o número de pessoas
subnutridas se tem mantido, o número de obesos não pára de aumentar. A OMS
(Organização Mundial de Saúde) estima que em 2025 seremos 50% de obesos da
população terrestre!
Na área da nutrição estamos a passar uma fase de
“conflito” de/entre dietas. Conflitos estes que nos baralham com as informações
contraditórias em relação àquilo que é uma dieta equilibrada, completa e variada (Roda dos Alimentos).
Quem me conhece sabe o que defendo. Ninguém me tira
da cabeça que a industrialização e a publicidade são as principais causadoras
deste flagelo que é a Obesidade!!
Aprender a comer dá muito trabalho e leva algum tempo
a mostrar resultados. No entanto, é preciso muita força de vontade, motivação e
persistência!! E não desistir.
Relativamente às outras três dietas que me refiro no
título deste artigo, há algumas informações a esclarecer.
O que nos proporcionam estas
dietas?
- Permitem perder muito peso de
repente;
- Difícil a sustentabilidade
desse peso perdido;
- Difícil uma mudança de hábitos
alimentares;
- São muito fáceis de fazer;
- Dispendiosas;
- Monótonas;
- Promovem o individualismo à
mesa;
- Têm princípio, meio e fim;
- As tradições gastronómicas não
se coadunam com este tipo de alimentação;
Também quem me conhece sabe que existem dois temas
que para mim são quase tabu e que me incomodam muito: obesidade infantil e
dietas milagrosas. =)
Sobre a obesidade infantil já falei aqui. Este artigo é inteiramente
dedicado a essas dietas.
Neste momento existem dietas para todos os gostos!
Quem tem acesso à internet pode constatar isso mesmo. Mas, neste momento, as
mais praticadas são as que me refiro no título deste artigo.
Já não bastava
a dieta “dos 32 dias”, como agora também temos a dieta “do tempo do homem das
cavernas” ou dos “macacos”, como lhe queiram chamar!! A sua aplicação é muito semelhante… ambas
hiperproteicas e restritas em hidratos de carbono! Ambas têm
implicações no funcionamento do nosso metabolismo. Também já escrevi isso aqui.
Existem realmente perdas de peso rápidas, mas serão sustentáveis?
Será que estamos assim tão evoluídos, que precisamos
de ir “buscar” as atitudes do homo
sapiens? Se assim é, para esta dieta ser perfeita, quem a promove deveria
ensinar a caçar com lança e a acender fogueiras sem acendalhas e carvão! Assim,
as carnes não eram processadas
e o modo de confecção não era o mais
“nefasto” possível. (estes são dois pontos defendidos por esta dieta).
Se o processado a que se referem é industrializado, estamos de acordo! E aqui
podemos comprar estes produtos em locais próprios, o talho! Quanto aos modos de
confecção, não existe o melhor nem o pior. Se todos os que existem forem
alternados e confeccionados de forma nutricionalmente correcta, estamos no bom
caminho. Esta dieta defende os crus e
os fumados. Se calhar o sushi já vem desta altura, e eu a achar que é
prato dos tempos modernos, e que afinal teve origem em África, e não no
Japão!! Promovem também as frutas
oleaginosas. Amendoeiras em flor também deveria existir em qualquer parte e
altura do ano!! Podemos ver no nosso Algarve, existem as amendoeiras em flor
durante todo o ano!!
Leite. Será que não amamentavam?!
Temos de ter consciência que houve uma evolução
alimentar! Não necessitamos assim tanto da industrialização, mas o
trabalho na terra, semeando para consumo próprio; a conservação dos alimentos;
a confecção dos alimentos. Todos estes factores deverão, como é óbvio, ser
tidos em conta. Por questões socioeconómicas e metabólicas, esta dieta não é
praticável nos dias de hoje!
Resumindo:
É rica em proteína, apesar das recomendações
serem de 12-15% por dia (hiperproteica=problemas renais); rica em vitamina e
minerais (bom!); muito pobre ou nula em hidratos de carbono (o nosso
principal combustível); rica em fibras (bom!); pouca gordura saturada
(óptimo!); baixo teor de sal (pudera, não havia industrialização e não
se conheciam métodos de conservação); rica em ómegas 3 (óptimo! até deu
inteligência ao macaco para se transformar em homem… terá sido por isso que
descobriu que o sal conserva!).
Tudo isto que se defende acerca desta dieta, eu
também defendo… ou melhor, quase tudo! O excesso de proteína e a restrição de
hidratos de carbono são nefastos ao nosso organismo!!
Ora, se uma dieta nos leva à era dos primatas, a
outra leva-nos aos tempos modernos! O seu slogan devia ser “viva a
industrialização”!!! Passamos de um extremo a outro! Da escassez para o
excesso!
Não sei porque esta dieta é apenas para pessoas
saudáveis?! Pessoas com diabetes, problemas de fígado ou rins, menores de 17
anos, mulheres grávidas ou que estejam a amamentar não podem fazer esta dieta!
Porque será?! Penso muitas vezes que os exemplos que vêm dos Estados Unidos nos
estão a estragar o nosso Património Mundial, que é a Dieta Mediterrânica!
Tenho pena que muitas mulheres estejam a tornar-se “escravas” desta dieta… a
única coisa positiva que retiro deste tipo de dieta é a disponibilização de
receitas. Parece que as pessoas quando iniciam uma correcção alimentar, deixam
de saber cozinhar! Estarei errada? Se a base das confecções for correcta, então
todos os cozinhados são saudáveis: cozinhar com menos gordura possível,
inclusive o azeite (única gordura a promover); utilizar ervas aromáticas e
especiarias, são um bom princípio para uma alimentação equilibrada, variada e
completa.
Deixei para o final deste artigo uma dieta que pensei
que já estivesse adormecida. Mas pelos vistos não… está de boa saúde e
recomenda-se!! Traduzi o seu nome para “erva da vida”… não sei se será essa a
sua tradução correcta! =)
Apesar deste nome, esta dieta não promove o consumo de alimentos na sua
natureza ao contrário das anteriores, sejam eles transformados ou não. Promove,
sim, a substituição de refeição por batidos aos quais chamam alimentos. Para
mim, a promoção da alimentação saudável passa, primeiro que tudo, pelo aspecto
visual da refeição; pela mastigação atingindo saciedade; pelo prazer
que há em fazer as compras para a refeição=)=)=)
(eu tenho), e não em preparar as refeições como se estivéssemos em laboratórios
ou um biberão para um bebe ou ainda um batido para alimentação por sonda… já
para não falar do prazer de cozinhar!
Quem vende este tipo de dietas, infelizmente, não tem
a mínima noção do que é o prazer de comer para as pessoas que têm excesso de
peso! Não entende o que custa mudar de hábitos alimentares! Não tem a noção que
a comida nos consola emocionalmente! Que estar à mesa a apreciar uma boa
refeição é também sociabilizar! E provavelmente não tem noção que estamos em
crise!!
Não vou fazer considerações finais neste artigo
porque acho que não tenho de as fazer! Todos sabemos a maneira de nos tornarmos
e/ou mantermos saudáveis, leia-se com saúde! Não quero, obviamente obrigar as
pessoas a praticar aquilo que promovo… cada um sabe o que faz com a sua própria
saúde! Apenas sensibilizo para, quem pratica este tipo de aventuras, pare e
pense no que está a fazer… pese todos, ou os que conseguir, prós e contras… se
precisar de ajuda é só dizer… estamos cá para ajudar. Por vezes são precisos
profissionais de outras áreas para ajudar…"
Podem acompanhar a Ana na rubrica intitulada "Vida Saudável" que passa na Rádio Pax todas as quartas-feiras pelas 10h15, ou contactá-la directamente através do e-mail nutrition@FITsalvador.com
Tem "piada"... a tal dieta da "erva da vida" também a julgava esquecida, até ao dia de hoje! Hoje durante uma conversa banal enquanto almoçava no trabalho, uma colega falava-me que uma familiar teria sido autorizada por um pediatra,("Sim porque ela só tem 16 anos"- palavras da colega) a fazer a dieta dos ditos batidos....
ResponderEliminarBom artigo. Concordo com muito do que foi aqui dito principalmente sobre a reeducação sociológica em relação aos hábitos alimentares e à não utilização de alimentos super processados. Defendo também que a dieta deve ser o mais flexível quer na escolha de alimentos quer na divisão de macros. No entanto deixo um reparo a uma afirmação incorrecta um pouco perigosa e que irá levar muitas pessoas em erro : (hiperproteica=problemas renais) - "Em 2004 Manninen fez uma recolha e análise de 41 estudos que indicam que altos consumos proteícos (até 2.8g por kg) não afectam negativamente parâmetros como : função renal, diabétes, integridade óssea, pressão arterial, saúde cardíaca, funções hepáticas e até pode ser benéfico em muitas das condicionantes referidas anteriormente. Em 2005 W.F. Martin realizou uma revisão de 111 estudos para determinar se de facto consumos proteícos elevados em atletas poderia afectar a saúde renal. Mais uma vez com resultados negativos, a proteína é “segura” em doses elevadas em indivíduos com indicadores renais normalizados. ". Terei todo o gosto em analisar a informação que aponta para o contrário (para possível discussão).
ResponderEliminarOlá Francisco
ResponderEliminarEm relação ao excesso de proteína originar problemas renais, não me refiro a insuficiências renais, mas sim a alterações de valores bioquímicos como o ácido úrico, ureias e creatininas que aparecem quando existe um consumo elevado de alimentos proteicos, nomeadamente as carnes brancas, (sem quantificação de acordo com as necessidades e objectivos de cada pessoa) e sem orientação nutricional. E aqui falo por experiência própria de adultos jovens praticantes de actividade física que aparecem com estes problemas quando consomem a.a. em vez de proteína isolada, como já existe no mercado. Pessoas que não fazem controlo bioquímico e que até podem ter predisposição para estes problemas.
Há, inclusive, estudos que referem que até 3g de proteína/kg não interferem no funcionamento do rim. Agora, quando temos um consumo elevado, que seja, de alimentos que contêm naturalmente sal, então poderemos ter problemas renais de forma indirecta.
Como técnica, e refiro isso, a dieta paleo até tem algum fundamento dentro do que se vê por aí ao contrário das outras duas dietas que refiro neste artigo. A dieta dos “32 dias”, como lhe chamo, tem a advertência para que pessoas com problemas renais não podem realizá-la. Porque será isto se os estudos mostram que não interfere com o rim? Promove o consumo de produtos industrializados ricos em sal e tem excesso de proteína.
O grande problema é que as pessoas não conhecem, não sabem ler nos rótulos e também porque muitas das vezes não é referido, o valor nutricional dos alimentos.
Sou apologista de um aporte proteico na alimentação de uma pessoa que pratica actividade física, mas a partir da alimentação. Eventualmente algum reforço com proteína isolada. Mas estas práticas têm e devem ser controladas e indicadas por quem sabe.
Por isso também não vejo porque pode ser uma afirmação assim tão incorrecta ou perigosa… provavelmente não me expressei bem através da escrita
Obrigada pelo seu comentário ;)
ana margarida
Comentei de volta mas nem reparei que não foi publicado. Peço desculpa. Na maioria dos casos nem existe necessidade real do uso de proteína (e sinceramente o uso de isolada é um desperdício de € visto que a concentrada chega muito bem para 99% dos casos). Facilmente se chega a 4gr/kg (valores excessivos)sem recurso a suplementação em especial em pessoas com TDEEs super elevados com prática desportiva regular, pessoalmente prefiro uma aproximação mais específica nomeadamente no controlo de leucina de cada refeição para tentar maximizar a SPM, ai sim fica mais dificil, mesmo assim por experiência própria é possivel chegar a valores supostamente optimizados com cerca de 2gr/kg de proteina (especialmente com o uso de suplementos, que podem ser desnecessários em alguns casos). Mais uma vez concordo plenamente com o o uso super reduzido de alimentos processados.
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