Chegou o Sol... e com ele as pressas para a obtenção de resultados (pelo menos) até a altura de vestir o bikini ou o short da moda...
Se para a fisiologia do exercício este processo quer-se metódico e consistente, na área da Nutrição as pressas também não favorecem o resultado final... muitas vezes dão em vagares... a nossa Nutricionista de "serviço" dá uma achega...
Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista equipa de Saúde Pública de Beja:
"Quando vão de férias? Julho, Agosto? Pois bem, é
nesta altura, com a vinda das novas colecções de roupa e corpos mais a
descobertos que se faz o click para uma perda de peso em que vale tudo ou quase
tudo!! Até colocar a saúde em risco, vale! Provavelmente este artigo virá um
pouco cedo (estou a ser irónica).
Digo isto, porque só a partir de Março se
começa a pensar que “tenho de perder peso até ao verão”; em Abril compramos a
roupa nova de treino e continuamos a pensar “tenho de perder peso até ao
verão”. Como o clima não anda certo e o S. Pedro anda um pouco desorientado com
o tempo, em Maio chove! Continuamos a pensar “tenho de perder peso até ao
verão, mas agora com a chuva não dá para fazer nada” (para quem faz actividade
física debaixo de tecto, frio e chuva, não sei se já repararam, também são um
obstáculo no atingir objectivos).
E eis que chega Junho… um ou dois meses para
as tão merecidas e desejosas férias de verão. Objectivo principal? Perder peso!!!
Pois é, deixem-me que
vos diga, que este método de atingir objectivos rápidos, pouco consistentes e
milagrosos não tem fundamento absolutamente algum… No momento de agir
passam-nos pala cabeça duas opções:
começar actividade física e controlar alimentação. Pensamentos
correctos, mas fora de prazo!! Deixem-me que vos diga que estes pensamentos
devem passar-vos pela cabeça em Setembro…
Começa o sprint na nossa
variante logo com grandes caminhadas e/ou corridas sem que se pense que a
preparação física e respiratória é nula ou quase nula. Correntemente “falando”
vamos com muita sede ao pote! Ora, começando com quase 10 km de caminhada –
distância (ida e volta) entre a ovibeja e a rotunda para Lisboa -, no dia a
seguir (quando pensámos que iríamos todos os dias) estamos de rastos… doem os
músculos e estamos cansadas (os) e logo aqui fazemos uma pausa no nosso
percurso. Ir para ginásios também é intenção… estes estabelecimentos de
actividade física enchem por completo nesta altura do ano. Ou aulas em grupo
também esgotam a lotação (querem uma aposta quem a partir de Março vamos ser
muitas mais?). Nestas duas situações os professores são “massacrados” para
realizarem treinos intensos porque há quem queira ir para a praia na linha.
No
que respeita à alimentação, os erros não têm conta!! Quem opta apenas pelo controlo alimentar, corta nos
hidratos de carbono de absorção lenta, torna a alimentação monótona e
aborrecida, comendo apenas cozidos e grelhados, carne de frango ou peru e
peixe. A parte positiva no meio disto tudo, sim, há sempre partes positivas no
meio de tamanhas asneiras, é que o consumo da água aumenta, consomem-se mais
saladas, mais peixe e, lá está, anda-se a pé (aqui faço outra recomendação: adquiram e implementem
estes hábitos no verão e prolonguem-nos no inverno).
A chegada da primavera não
é notada apenas com a vinda das andorinhas… as farmácias e ervanárias também
nos lembram dessa estação, e é também por este motivo que nos lembramos que
temos de perder peso até ao verão! Nesta altura,
as montras destes estabelecimentos exibem enormes reclames, prometendo milagres
a quem deseja perder peso. Ou talvez porque este seja simplesmente um
"negócio da China". Já falei sobre estes efeitos no artigo anterior,
mas nunca é de mais lembrar que a maior parte destes produtos é de venda livre,
o que significa que qualquer pessoa os pode comprar sem receita médica e também
que a maior parte é ineficaz. E muitos deles podem interagir com medicamentos
convencionais.
Quem opta por conjugar
controlo alimentar e tomada de medicação, lembre-se que a toma prolongada
de medicamentos pode trazer problemas de saúde graves e o controlo alimentar
sem aconselhamento não é duradouro, é monótono e muito restrito. Isto porque a educação alimentar é o melhor tratamento
para o controlo de peso. Alterar hábitos alimentares e saber mantê-los é a
melhor solução. Obviamente que conjugando com a actividade física.
O facto de estas pressas não resultarem
deve-se ao curto período de tempo em que não há mudança nem implementação de
hábitos alimentares, criação de hábitos de actividade física (não se cria a
necessidade de…) e ao nível do metabolismo, o organismo assume que, durante um
ou dois meses, esteve em restrição. Quando, por aborrecimento, frustração por
não sermos recompensados pelo esforço que estamos a fazer, não obtemos
resultados e voltamos aos hábitos antigos (diga-se de passagem nada antigos,
até muito recentes) o organismo absorve muito mais uma vez que esteve sedento
de alimento. E aqui, há recuperação muito rápida do peso perdido e a possibilidade
de ganharmos peso com juros.
Não esquecem
que aumentamos de peso quando não gastamos aquilo que ingerimos. Desta forma
não chega perder peso a qualquer preço!! Há que mudar hábitos, aprendendo a
comer e a cozinhar de outra forma. É nosso dever, profissionais da área,
motivar-vos, mas também há que haver uma abertura da vossa parte para
acreditarem em nós. Libertarem-se de mitos e ideias erradas quanto à
alimentação. Acreditem em vocês para
atingir objectivos.
Porque não é só
a saúde física que se ganha. Tão ou mais importante também se ganha saúde
mental!! No primeiro artigo disse-vos, paciência,
persistência e motivação são os únicos “medicamentos” aconselhados na mudança de
hábitos. E já agora, não vos querendo desanimar, estas mudanças fazem-se e
implementam-se, em média, entre cinco a dez anos. Por isso, entre um a dois
meses, esqueçam!!!
Estas e outras dicas podem ser acompanhadas na rubrica intitulada "Vida Saudável" que passa na Rádio Pax todas as quartas-feiras pelas 10h15
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