Esta vertente, mais ou menos ociosa, da redução do peso à base de químicos nunca me convenceu!
Se empiricamente são poucos os argumentos, academicamente são muitos os que sustentam as minhas dúvidas...
Quando sugeri à nossa Nutricionista de "serviço" que abordasse este tema fiquei um pouco ansioso. Seria agora que começariam as nossas "divergências"??
Surpreendam-se!
Por Ana Margarida Ramalho, Nutricionista equipa de Saúde Pública de Beja:
"Há
milagres para perder peso?
Um grande perigo para as pessoas com excesso de
peso ou obesidade é o uso das chamadas "fórmulas" mágicas”, para emagrecer. São compostos que
associam, numa mesma cápsula, varias substâncias diferentes, geralmente
manipuladas em farmácias, com o objectivo de acelerar a perda de peso.
Estas "fórmulas", geralmente, associam,
numa só cápsula, um medicamento inibidor
do apetite (em geral, um anorexígeno derivado
das anfetaminas, tais como: o femproporex, a anfepramona ou o mazindol),
juntamente com um diurético
(furosemida) e um ou mais laxantes de
origem vegetal (fucus, cáscara sagrada) ou química (fenolftaleína). Algumas vezes podem conter também hormonas tiroideias (T4, T3) e anti-depressivos (diazepam), bem como
várias outras substâncias de efeitos diversos, com o objectivo de aumentar a
perda de peso ou diminuir os efeitos colaterais das outras substâncias.
Quanto mais substâncias químicas uma pessoa ingerir,
maior a probabilidade de efeitos secundários sérios. Quando se associam vários
compostos com acções diferentes numa mesma cápsula, os efeitos podem ser
imprevisíveis e até mesmo fatais.
Penso que o que vos descreverei mais abaixo vos elucidará
quanto à utilização de “milagres” para perder peso. Ao escrever este artigo,
também penso que já notaram a minha posição, enquanto profissional da área,
quanto as estas substâncias.
Confesso que quando me chegam utentes com estes
pedidos, é-me muito difícil convencê-los das consequências que estes medicamentos
nos trazem. Alguns deles abandonam as consultas com a ilusão de que vão
conseguir mais rapidamente atingir os seus objectivos. Conseguem-no, mas por
pouco tempo! Se não vejamos: alguns
tipos destas formulas podem levar a perdas de mais de 10kg por mês, no inicio
da sua utilização. No entanto, os efeitos secundários que se fazem sentir, em
poucas semanas, levam ao abandono do tratamento por parte da pessoa com excesso
de peso/obesa. Se neste intervalo o doente não tiver mudado os seus hábitos
(sejamos realistas, isto nunca acontece!), recuperará muito rapidamente o peso
que perdeu ou mais, dentro de pouco tempo. Assim, nesta lógica, estes milagres
não funcionam a longo prazo! Até poderão ser medicamentos que engordam. Quem
não fez ou não conhece alguém que fez este tipo de asneiras e passado um tempo
diz que recuperou todo e peso e até mais? Se num perco 10kg, e passado uns
tempos ganho 12kg, então engordei 2kg!
Estes são os efeitos físicos. E os efeitos
psicológicos provocados pelos moderadores de apetite e anti-depressivos? Aquando do abandono destes medicamentos as
perturbações são muito serias e graves! Depressão, ansiedade, mal-estar,
cansaço, obstipação, sonolência excessiva, alterações da tiróide, etc.
Vale a pena relembrar-vos que uma perda de peso
saudável é aquela que reduz a quantidade
de gordura corporal e melhora a saúde geral do indivíduo. No caso dos
medicamentos, não é isso que acontece, pois a pessoa perde não só gordura como também massa muscular, massa óssea e água corporal, além de poder apresentar varias
complicações de ordem mental e física e correr um enorme risco de ganhar peso
novamente após interrupção do seu uso.
Efeitos
colaterais destas substâncias:
1) Moderadores
de apetite (femproporex, anfepramona, dietilpropiona,
mazindol) - Podem aumentar a pressão
arterial, acelerar os batimentos
cardíacos (taquicardia), produzir arritmias
cardíacas, causar insónia, boca seca,
suor excessivo, agitação, ansiedade
e até mesmo delírios e alucinações em
algumas pessoas. Em indivíduos que já tenham pressão alta ou problemas cardíacos,
podem provocar angina, enfarte e morte por paragem cardíaca. Os efeitos são mais graves quanto maior a dose
e maior o tempo de utilização. Além disso, podem causar dependência se
usados por mais de alguns meses.
2) Hormonas
tiroideias (liotironina ou T3, tiroxina ou T4, acido
triiodotiroacético ou Triac ou tiratricol) - Foram os primeiros medicamentos
utilizados para o tratamento da obesidade, no final do século XIX, mas logo
foram abandonados porque podem provocar taquicardia,
arritmias cardíacas, aumento da pressão arterial, angina, enfarte, insónia, agitação, irritabilidade e problemas menstruais quando utilizados em doses
altas ou em pessoas que não tenham determinadas doenças da tiróide.
3) Diuréticos
(furosemida, hidroclorotiazida etc.) - Reduzem
o peso apenas através da perda de água corporal, sem interferir na
quantidade de gordura do corpo. Por alterarem o conteúdo de água do organismo,
podem levar a problemas renais graves
(insuficiência renal e pedras nos rins), bem como à perda de sais minerais importantes (potássio, sódio, cálcio etc.).
4) Laxantes
(fenolftaleína, fucus, sene, cáscara sagrada etc.) - Agem da mesma forma que os diuréticos: diminuem o peso aumentando a
perda de água nas evacuações. Podem levar a problemas renais e intestinais diversos. Além disso, o uso de
laxantes por tempo prolongado pode fazer com que o intestino fique
"dependente" desses medicamentos, resultando numa grande dificuldade
em evacuar sem o uso dos mesmos.
5) Anti-depressivos
e ansiolíticos (diazepam, clonazepam, lorazepam, bromazepam,
fluoxetina) - São colocados nas "fórmulas" apenas para tentar diminuir os efeitos colaterais (insónia,
agitação, irritabilidade) produzidos pelos moderadores de apetite e hormonas
tiroideias. Quando usados isoladamente,
podem levar a ganho de peso. Quando
usados em conjunto com essas outras substâncias, podem levar a interacções medicamentosas diversas e
efeitos imprevisíveis sobre o sistema nervoso central (delírios,
alucinações, paranóia, mania de perseguição, fobias, depressão, surtos
psicóticos etc.). Assim como os moderadores de apetite, também podem provocar
dependência se usados por tempo prolongado.
6) Compostos
"naturais" e ervas diversas (erva-de-são-joão, aloína,
quitosana, guaraná, kava-kava, passiflora, gelatina, glucomannan) - Não há estudos sobre o uso dessas
substâncias no tratamento da obesidade, portanto não se sabe se são úteis
ou não. Além disso, como não há estudos sérios sobre seu uso, também não há
conhecimento sobre seus possíveis efeitos colaterais. O mito de que remédios "naturais" não possuem efeitos
adversos e totalmente falso. De fato, muitos dos medicamentos e venenos
mais potentes conhecidos na actualidade são derivados de substâncias
"naturais". Como os seus
efeitos são desconhecidos, não podem
ser recomendados para o tratamento da obesidade, e deve-se ter muito cuidado com o seu uso, uma vez
que pode haver efeitos colaterais ainda ignorados.
Não se
enganem a vocês próprias com estes milagres!!!
Bons
treinos e boas escolhas alimentares…"
Obrigado Ana, a batalha será longa!
Estas e outras dicas podem ser acompanhadas na rubrica intitulada "Vida Saudável" que passa na Rádio Pax todas as quartas-feiras pelas 10h15
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