“Não é fácil pegar num texto consagrado e torná-lo outro.
Mas a arte permite-nos essa liberdade. Flávio Horta traz-nos o sagrado e o
profano com uma frescura necessária para que possamos fazer interpretações
próprias, através da análise de pormenores como de elementos contemporâneos. As
tatuagens, os lenços, as mantas alentejanas, as vestes casuais, o facto de
haver uma mulher entre os guardas, tudo isso revela a evolução dos tempos, isso
aproxima o observador do objecto de observação, e essa é a verdadeira
ascensão da arte. As cores quentes utilizadas também nos permitem
percepcionar a densidade da acção. Jesus é o centro desta composição, no
momento em Judas Iscariotes o entrega com um beijo à guarda do templo por
trinta moedas de prata. Mais tarde, destroçado de arrependimento, Judas acaba
com a própria vida enforcando-se no tronco de uma figueira. A acção de Judas e
suas consequências foram fruto da fraqueza da humana condição que nos faz errar
e por vezes atingir os nossos semelhantes, até aqueles que mais amamos.”
Sofia Paulino
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