A nossa Nutricionista de serviço deixa uma pequena rubrica sobre uma das modas na área da Nutrição: DETOX.
A evidência científica será sempre um problema para os arautos paladinos das soluções fáceis e ociosas...
A evidência científica será sempre um problema para os arautos paladinos das soluções fáceis e ociosas...
"E para contrariar a alimentação
realizada durante a época do natal e ano novo há uma corrida enorme às dietas
da moda. Uma das mais comuns é a “dieta detox” que consiste numa intervenção a
curto-prazo, praticada com o objetivo de eliminar toxinas do corpo, promover a
saúde e auxiliar na perda de peso. Nestas dietas as toxinas são definidas como
os poluentes, químicos sintéticos, metais pesados, comida processada e outros
produtos prejudiciais para a saúde.
Com a publicidade em volta destes
produtos a aumentar, torna-se necessário percebemos se efetivamente estas
dietas são benéficas para a eliminação de “produtos tóxicos” do nosso corpo e para
a perda de peso.
Dietas Detox & Eliminação
das toxinas do organismo / “Purificação do organismo”
Existem alguns compostos químicos
sintéticos que são tóxicos e se acumulam no nosso organismo, alguns deles são
lipossolúveis e por isso acumulam-se especificamente no tecido adiposo. Isto
impede que estas substâncias tóxicas andem livremente pela corrente sanguínea.
Em doses elevadas estes compostos podem ser tóxicos. Entre estes temos os POPs
(Poluentes Orgânicos Persistentes), Ftalatos, BPA (bisfenol A) e outros
bisfenóis e os Metais (mercúrio, chumbo, cádmio, arsénio e alumínio). Podemos encontrá-los
por exemplo em pesticidas, tintas, cosméticos, embalagens de plástico de
alimentos e bebidas, garrafas de água, brinquedos de plástico, cápsulas de
suplementos alimentares, garrafas de água, entre outros. Alguns destes
componentes foram já banidos ou restringidos na União Europeia, mas nem todos.
Uma exposição a estes compostos
está associada a doença cardiovascular, defeitos neurológicos, alterações ao
nível da reprodução, cancro, disrupção endócrina e doenças metabólicas como a
diabetes, obesidade, etc., e pode comprometer o desenvolvimento infantil.
O processo de “destoxificação” é
um processo fisiológico do nosso corpo. Este ocorre, portanto, naturalmente e
nele intervêm vários órgãos, nomeadamente o fígado, os rins, o sistema
gastrointestinal, a pele e os pulmões. E existem vários processos/vias de
destoxificação e estes dependem do composto que se pretende eliminar (ex.:
chumbo, mercúrio, etc.).
E haverá de facto nutrientes que
podem ajudar nesta excreção?
Existem diversas variantes da dieta
“detox”, desde o jejum, aos sumos detox, a alterações do comportamento
alimentar e recorrem muitas vezes ao uso de laxantes, diuréticos, vitaminas,
minerais, e/ou “alimentos que ajudam a limpar o organismo”.
O primeiro problema com estas
dietas é que não nos dizem as “toxinas” específicas que têm como objetivo eliminar
e os respetivos mecanismos, sendo difícil comprovar as suas alegações. Para
além disso muitos poucos estudos foram feitos em humanos, existem alguns
resultados positivos, mas a sua maioria foram obtidos através de estudos em
ratos e trutas. Pelo que seria errado
extrapolarmos que em humanos teremos exatamente os mesmos resultados.
Os resultados preliminares destes
estudos de facto sugerem que alguns nutrientes podem ser úteis, auxiliando no
processo de eliminação de produtos tóxicos, como é o caso dos coentros, acido
málico (presente nas uvas e vinho), ácido cítrico (presente em frutas
cítricas), ácido sucínico (presente em maçãs e mirtilos) e clorela (alga).
Contudo, nada conclusivo em humanos que nos leve a crer e basear a nossa
alimentação na certeza de que estas substâncias serão de facto eficazes. Afinal
de conta não somos nem ratos nem trutas…
Resta-nos esperar por mais
resultados em humanos relativamente a estes compostos para perceber se têm de
facto efeito, em que quantidades, em que situações e eventuais possíveis
contraindicações e/ou efeitos secundários.
Dietas Detox & Perda de
Peso
Muitos olham para estas dietas
como uma forma de “apagar” uma alimentação mais calórica, rica em gordura e
açúcares ou de “limpar as suas consequências”, nomeadamente o aumento de peso.
O que é certo é que esta dieta
não vai milagrosamente apagar toda a gordura e açúcares de consumiu nesta época
festiva.
Quanto ao peso, as dietas detox
parecem de facto ser eficazes na perda peso a curto-prazo devido ao elevado
défice calórico em que todas elas se baseiam. Contudo, desconhecem-se os seus
efeitos a longo prazo ou na manutenção do peso. Mas esta perda de peso não
parece ser ilesa para a saúde!
Em alguns casos estas dietas
levam a uma perda rápida de peso que, ao contrário do que muitos pensam, pode
ser prejudicial para a saúde. Isto porque juntamente com a perda de peso,
também as substâncias tóxicas (como os POPs) que se acumulam no tecido adiposo
(“gordura”) podem ir para a corrente sanguínea e em vez que serem excretadas (como
seria o ideal!) podem ser distribuídas para outros órgãos mais sensíveis como o
cérebro e rins, e aí se acumularem novamente, acarretando um risco ainda maior
para a saúde. Esta é uma das razões pelas quais ouve muitas vezes dizer que o
ideal é que a perda de peso seja gradual.
Em jeito de conclusão podemos
então perceber que…
Estas dietas parecem acarretar um
elevado risco para a saúde que se sobrepõe ao eventual benefício de perda de
peso a curto prazo que demonstram. Para além disso, a sua utilização para
eliminar substâncias tóxicas não parece ser atualmente fundamentada pela
literatura científica. Quanto aos nutrientes mencionados anteriormente,
aguardamos pacientemente mais estudos de forma a perceber os eventuais
benefícios em humanos.
O melhor será, portanto, evitar a
exposição a estes compostos tóxicos, dentro do possível. Evitando, por exemplo,
garrafas de plástico, tupperwares ou outros recipientes alimentares de
plástico. Estes comportamentos ajudam não só o ambiente, mas também a sua
saúde. Escolha alimentos nos quais confie a sua origem, com maior controlo na
sua produção.
Quanto à perda de peso, procure
um nutricionista para o ajudar a perceber qual a melhor estratégia (“dieta”)
para si, delineá-la consigo de forma a atingir os seus objetivos e mantê-los.
Lembre-se que fazer qualquer
dieta em que não se conheça os seus efeitos, ou não seja recomendada para si
pode custar-lhe saúde. Por isso aconselhe-se sempre junto do seu profissional de
saúde."
Nutricionista Joana
Jesus, 3715N.
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