Por mais que os processos de desenvolvimento e crescimento
possam ocorrer simultaneamente e apareçam muitas vezes associados, não quer
dizer que seja processos biologicamente idênticos.
Bogin (1998) , define crescimento
como o conjunto de modificações quantitativas de tamanho ou de massa e
desenvolvimento como o conjunto de alterações que conduzem um organismo, de
forma progressiva, desde um estado indiferenciado ou imaturo até a um estado
organizado, especializado ou maturo.
Todos os seres humanos apresentam um tempo de crescimento
muito demorado, especialmente se considerarmos o tempo que passa desde o inicio
da primeira infância e o inicio da aceleração de crescimento da adolescência.
Esta “demora” permite a maturação cerebral e serve para potenciar a nossa
sobrevivência através das aprendizagens cognitivas, emocionais e sociais. (Fragoso, 2010)
Os processos biológicos responsáveis pelas modificações,
desde a concepção até à idade adulta são:
- Hiperplasia – aumento do número de células, que ocorre em consequência da divisão celular
- Hipertrofia – aumento do volume celular, que resulta no aumento das unidades funcionais das células (proteínas e outros substratos) tal como acontece nas células adiposas que aumentam por incorporação dos triglicéridos no seu citoplasma.
- Agregação- ou aumento da capacidade das substâncias intercelulares ligarem as células entre si e formarem um sistema de rede.
A fase de crescimento na qual o organismo se encontra
determina o processo utilizado.
Os diferentes tecidos e órgãos não crescem em simultâneo
porque o corpo faz a gestão das reservas de energia que dispõe para obter uma
maior eficiência do processo de crescimento. Isto abre lugar a momentos de
maior estabilidade no crescimento morfológico, dimensional e estabilidade
proporcional, favorecendo a obtenção de novas aprendizagens. (Fragoso, 2010)
Basicamente, o que
fazemos durante a vida é criar, perceber e adaptar estratégias de utilização de
energia que nos permitam crescer (para cima ou para os lados) de modo
eficiente.
O processo de crescimento mantém um trajecto normal e
geneticamente estabelecido, o que é percetível se observarmos os gráficos de referência
relativos ao crescimento infantil. Podemos distinguir 4 tipos de crescimento:
1.
Tipo linfoide
2.
Tipo neural
3.
Tipo genital
4.
Tipo geral
As representações gráficas do crescimento são feitas a
partir de medidas absolutas e recorrendo a curvas de crescimento que podem ser
de dois tipos: distância ou velocidade.
Assim, a curva de distância representa o produto do
crescimento num determinado momento enquanto que a curva de velocidade
representa o processo de crescimento, ou seja, os momentos de maior ou menor
aceleração de crescimento.
É certo e sabido da existência de ritmos de crescimento
diferentes e específicos para cada estrutura morfológica e a alternância entre
os períodos de máxima velocidade de crescimento com períodos em que a
velocidade é mínima permitem definir diferentes fases de crescimento. Estas
fases são distinguidas pelas diferenças da morfologia externa e das capacidades
funcionais.
O facto de enquanto equipa termos optado por dividir as
turmas por escalões (ex: FITkinder, CrossKIDS) foi ponderado e teve em conta os
períodos sensíveis de aprendizagens das diferentes habilidades motoras. Para
que entendam melhor o trabalho que fazemos com os vossos filhos, utilizaremos
um quadro de Fragoso e Vieira (2006) para resumir cada uma das fases de
crescimento.
Tabela 1- Quadro resumo das
fases de crescimento segundo Fragoso & Vieira
Fase intra
uterina
|
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Periodo Germinativo
|
Até às 4 semanas e corresponde ao período de
formação dos três folhetos embrionários.
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período embrionário
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Organogénese e Morfogénese – Desde a 4ª à 8ª semana de
desenvolvimento: os folhetos germinativos dão origem aos diferentes órgãos e
tecidos e o embrião passa a apresentar forma humana.
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Período fetal
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Entre a 9ª semana e o nascimento: Crescimento e
maturação dos tecidos anteriormente formados.
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FASE PÓS-NATAL
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1ª INFÂNCIA
(0-3 anos)
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Período neonatal – primeiros 28 dias de vida:
período de adaptação, ajustamento e aperfeiçoamento das funções fisiológicas
e sensoriais às novas condições do envolvimento.
Até ao final do 2º ano de vida: crescimento e
desenvolvimento rápido, os aumentos de massa corporal e estatura são
respectivamente de 150-200% e 50%.
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2ª
infância
(3-8
A 12 ANOS)
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Período de relativa estabilidade. O crescimento processa-se de uma
forma lenta, não se verificando grandes alterações morfológicas.
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2ª
FASE DA 2ªiNFÂNCIA
3ª
iNFÂNCIA PERIODO JUVENIL
|
Período de grande desaceleração de crescimento.
Termina quando se dá inicio à última aceleração do crescimento.
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Adolescência
(entre
os 9 e 13 anos)
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Aceleração e desaceleração intensa do crescimento esquelético.
Alteração na composição corporal devido ao crescimento musculo-esquelético e
às variações na quantidade e distribuição do tecido adiposo. Desenvolvimento
dos sistemas circulatórios e respiratório. Aumento da força e resistência.
Desenvolvimento das gónadas, órgãos reprodutores e das características
sexuais secundárias. Combinação neuroendócrina que desencadeia e coordena as
transformações pubertárias. Definição do tipo morfológico final.
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idade
adulta
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Inicia-se no momento em que toda as estruturas
morfológicas cessam o seu crescimento e desenvolvimento.
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A nossa intervenção passa essencialmente pela segunda
infância porque sabemos que é um excelente período para a aprendizagem. É neste
período que as crianças atingem os padrões maturos de todas as habilidades
motoras fundamentais. O crescimento está numa fase relativamente baixa e
constante enquanto que o sistema nervoso está muito próximo do seu estado
adulto. Isto permite à criança integrar o seu esquema corporal de forma
consistente e duradoura e ao mesmo tempo aprender todas as habilidades motoras.
Nesta fase, o aumento relativo dos membros inferiores e das
medidas transversais em conjunto com a diminuição relativa da gordura corporal
e a sua redistribuição conferem à criança uma grande linearidade. Isto faz com
que as crianças apresentem uma enorme predisposição à actividade física
espontânea. (Fragoso, 2010)
Hoje em dia, face aos factores socioeconómicos e aos
condicionamentos dos tempos livres, as crianças passam a maior parte dos seus
tempos em actividade sedentárias. A organização temporal que nos dias de hoje é
imposta às crianças, tem consequências irreparáveis e contribui para o aumento
da obesidade e do estabelecimento de tipos morfológicos que contrariam as
características normais desta fase de crescimento.
Além dos benefícios na performance académica (clica AQUI) ,só
a participação regular em actividades físicas organizadas não garante por si só
o adequado fortalecimento muscular dos jovens. Todos sem excepção devem
reconhecer os benefícios potenciais do desenvolvimento da força e das
habilidades motoras básicas nestas idades.
Por fim, respondendo à pergunta: Estamos a preparar um futuro melhor para o/a seu filho/a!
Por fim, respondendo à pergunta: Estamos a preparar um futuro melhor para o/a seu filho/a!
PS: Num próximo post falaremos sobre os mitos e verdades
inerentes ao treino de força em jovens.
Bibliografia
Bogin, B.
(1998). Patterns of Human Growth. Cambridge: Cambridge University
Press.
Fragoso, I. (2010). Talento. Lisboa: Faculdade
Motricidade Humana.
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